sexta-feira, 29 de abril de 2016

Papo Reto com Lalau Martins

Entre o palco e a rua, na origem das danças urbanas no Estado, Lalau Martins identifica seu espaço e conta sua história para o Dança no ES


Com samba correndo nas veias desde criança, seria muito difícil que o popular e o urbano estivessem distantes da carreira de Lalau Martins, artista precursora das danças urbanas no Estado e coreógrafa da Mocidade Unida da Glória (MUG). Muito jovem e dotada de nítida habilidade corporal, Lalau começou na ginástica olímpica, passou pelo basquete (em ambos os esportes, foi atleta), até chegar definitivamente à dança. Já como professora, a artista se aproximou da dança de rua, na qual decidiu se especializar. Começou a dar aulas em academias de Vitória, algo que não se via na época, uma vez que o break existia no Estado de forma restrita a manifestações espontâneas em parte da periferia. Lalau fundou o grupo Vitória Street Dance (Cia VSD) há 19 anos, o primeiro na modalidade, e levou a dança de rua para os palcos e festivais de dança conhecidos nacionalmente, ganhando grande repercussão. A fim de ampliar espaços de visibilidade na Grande Vitória, a artista criou o Festival de Street Dance, que contou com seis edições até hoje e deverá voltar – ela promete! Lalau Martins, além de trabalhar também com projetos sociais em dança, encontra tempo e espaço para outra paixão: o carnaval. Há quase dez anos na MUG, chegou a coreografar comissões de frente, carros alegóricos e o Samba Show, trabalhos sempre muito bem reconhecidos na área. Para ela, a nota é sempre 10!

Confira a entrevista!



Foto: Thayrone Hideki


DNES: Quais são suas atividades hoje na dança?


Lalau - Eu estou no Projeto Cajun há dez anos. Lá, trabalho com crianças de 6 a 15 anos, com dança de uma forma geral. Também estou em Pedro Canário, faço monitorias lá. Os alunos dançavam, mas não sabiam o que era a técnica. Eu conheci a Fabiana Alves, que coordena o projeto, quando eu fazia o Festival de Street Dance aqui em Vitória. Na ocasião, o grupo dela veio para cá para poder se apresentar e percebi um material humano muito bom na dança. Ela me convidou para ir trabalhar lá só com a turma avançada e aplicando técnicas mesmo. Aos poucos, fomos fazendo uma renovação na dança lá dentro, porque a cultura popular é muito forte lá, então, é meio difícil eles aceitarem a técnica, que é enjoada mesmo. Se você é da área de dança popular, o clássico se torna massacrante. Hoje, o nível da dança deles cresceu muito. Além disso, trabalho com a MUG como coreógrafa.


Conte um pouco sobre sua história. De onde partiu seu interesse pela dança?


A dança, de modo geral, entrou na minha vida pela ginástica olímpica. Aos nove anos, eu comecei a fazer ginástica olímpica na escola. Era uma alemã que dava aula de Educação Física e havia um núcleo muito forte. Quando saí do primário, me viram com esse potencial na aula e me chamaram. Com três meses na equipe da escola, me chamaram para começar a treinar junto com a seleção capixaba e não parei mais. Fui atleta do Estado durante muitos anos, porque, depois da ginástica olímpica, ainda fui para o basquete.

Foi na ginástica olímpica o meu primeiro contato com a dança por causa do solo, nós tínhamos que fazer aulas de clássico para a dança ficar melhor. Fui me interessando pela dança. E minha família adora música, meu pai sempre gostou. Por causa da ginástica, conheci muita gente de outros esportes. A gente fazia muita corrida de 100 metros na pista de atletismo, por causa do salto sobre a mesa (que, antes, era sobre o cavalo), para ter aquela explosão ao saltar. Um técnico de vôlei, que fazia faculdade, tinha que montar um time de basquete e, como me conhecia e via que eu tinha muita velocidade, me chamou também. Eu fui e, depois disso, fiquei no basquete, joguei até uns 35 anos.

Houve um período, quando acabei o segundo grau, que eu falei “não quero só isso, eu quero dançar”. Todo dia, quando ia para o Colégio Nacional, no Centro de Vitória, eu ouvia as músicas de dança da academia Alice Gasparini. Um dia eu subi as escadas, perguntei como era, disse que eu queria fazer aula. Fui fazer aula normal, como iniciante, aí a Alice falou “você não pode ficar nessa turma, você tem a dança muito desenvolvida”. Ela disse “em vez de você fazer só as aulas de jazz, faz todas as aulas que você quiser e eu te dou bolsa aqui, mas não pode faltar”. Assim, eu comecei a fazer clássico, jazz, contemporâneo e afro. Comecei a fazer todas as modalidades que eu podia, cheguei até a turma avançada. Aí ela perguntou se eu queria começar a dar aula. Comecei e foram 12 anos na Alice dando aula.


E o contato com a dança de rua, como se deu?


Nesse período de dar aula na academia, ela falou “por que você não dá uma viajada, vai fazer alguns cursos para conhecer mais”. Fiz curso de ginástica, de ritmos, que envolvia vários ritmos brasileiros, inclusive o street funk, fiz clássico e jazz. Fui fazer muitos cursos em Poços de Caldas (MG). À noite, aconteciam várias apresentações de dança, muito aeróbica, que estava na moda na época. Quando eu vi o Grupo de Dança de Rua do Brasil, falei: “é isso o que eu quero pra minha vida”. Eu já tinha essa coisa do black, do amor pelo Michael Jackson, mas, quando eu vi um grupo verdadeiramente no palco e não num vídeo, aquilo me encantou de uma forma... Aí eu cheguei a Vitória e falei para a Alice “quero me especializar nisso”. Ela disse “se é isso o que você quer, vamos estudar um pouco mais antes de colocar aqui na academia”.

Aqui tinha a periferia com o break, até bem forte, mas não existia aula em academia, nem palco. Guardei uma grana e fui para Santos, tinha que ir para onde estava o grupo estourado no Brasil. Fiz de break até tudo o que você pode imaginar dentro de dança de rua. Quando voltei, abrimos a turma, “bombou”, prejudicou muito a professora de jazz [risos]. Estavam começando a aparecer vídeos na televisão, não teve jeito. Depois, as coisas foram se assentando. A primeira apresentação de dança de rua em Vitória foi com a academia da Alice, no festival dela. Eu saí da academia dela e fui para Karla Ferreira, fui dando aula. Eu, praticamente, só dancei três coreografias de dança de rua, não me lembro de ter dançado mais. Sempre fui dando aula e montando coreografia. Não tinha grupo da minha faixa etária para dançar.


E, então, você montou o Vitória Street Dance com os alunos?


Montei o Vitória Street Dance (Cia VSD) com os alunos avançados, há 19 anos, e, nesse percurso, eu já estava muito envolvida com a dança e a Prefeitura começou a me chamar para dar aulas. Eu não podia porque estava com muitos lugares para dar aula, já que eu também dava jazz, clássico, afro, aula de tudo. Comecei a dar aula para duas turmas à noite em Andorinhas e foi ali que se fortificou o VSD. Já existia o grupo, mas ali que ganhou força porque havia uma base infantil do Vitória Street Dance lá, e a gente já estava em outra academia também. Então, eu fiquei com a turma infantil e com a dos jovens, mais avançados.

Chegou um período em que nós fomos para o Festival Internacional de Hip Hop, em Curitiba, os dois grupos conseguiram se classificar para o festival internacional, tanto o infantil quanto o adulto. E, até hoje, eu tenho aluno que começou lá em Andorinhas e continua comigo.


O Festival de Street Dance surgiu como?


Como eu já tinha o VSD, precisava fazê-los se desenvolverem mais, praticarem mais. Ao mesmo tempo, várias outras escolas já estavam com aulas de dança de rua também, começou a ter outros grupos dançando no bairro. Eu pensei: “está na hora de eu fazer um festival para botar esse povo para dançar”, e não tinha onde dançar a não ser em pracinha. Foi quando eu fiz o primeiro Festival de Street Dance, no Teatro Carlos Gomes, no início dos anos 2000.

Eu pensava que, se eles não tivessem um lugar de respeito para dançar, essa movimentação toda poderia acabar. Eu fiz o festival, foram seis edições de muito sucesso. Ele se expandiu, o interior vinha para dançar com a gente. Fui para Venda Nova, fiquei um tempo dando aula lá também. Depois, você já via, em todos os festivais de escolas de dança, coreografias de street dance. Foi um grande “boom”. Está na hora de voltar com o festival...

Com o meu grupo mesmo, viajei muito para São Paulo, Rio, Curitiba. O VSD ia muito para esses lugares para festivais. Aqui em Vitória, nós passamos uns cinco anos ganhando todos os festivais que havia, inclusive quando tinha modalidades diferentes de dança.

Depois de um tempo, eu retornei com um espetáculo, que também foi uma novidade (nunca tinha tido espetáculo de danças urbanas em Vitória), que foi o “Contemporaneidade em Dança de Rua”, há três anos.


Foi o que vocês fizeram pelo edital da Secult de Residência, né? Como foi esse espetáculo?


Foi ótimo. Foi um trabalho muito árduo para os meninos porque, geralmente, quando o pessoal das danças urbanas chega, principalmente o pessoal de periferia, que tem enraizado o break, eles não abrem o leque de informação (na cabeça), não percebem que, se fizerem outras modalidades, aglutinarem movimentos à dança urbana, podem melhorar o repertório deles como dançarinos. Eu falei “quero que vocês entendam a dança melhor dentro do corpo de vocês, porque, só eu falando, não está dando para entender”.

Conheci o Bruno Duarte, que veio coreografar o grupo, já sabia do trabalho dele como dançarino com o Grupo de Rua de Niterói, que mistura o hip hop, a dança de rua, com o contemporâneo. Eu o chamei, perguntei se ele queria fazer esse trabalho com os meninos – eles já o conheciam e tinham muito respeito pelo trabalho dele. Falei que queria trabalhar com dança de rua e contemporâneo, mais próximo às referências de Pina Bausch e Rudolf Laban. No início, foi muito sacrificante. A primeira rejeição deles foi tirar o tênis para dançar descalço.


Este ano, você vai estrear um novo espetáculo com seu grupo. Como será?


Este ano, é o retorno da Cia Vitória Street Dance (VSD) com o espetáculo novo. A previsão para estreia é agosto. Esse espetáculo será bem alegre. O Contemporaneidade, que foi o primeiro espetáculo, era mais intimista. Os meninos tinham vergonha de se mostrar, então, nós procuramos usar essa introspecção deles e jogar com isso. Esse não, é bem pra cima, com muita coreografia atualizada, tem um trecho com bastante afro, que é o afro house, que eles gostam de dançar. Eu acho que o afro house tem muito a ver com o Brasil, a velocidade do house associada aos movimentos do afro é algo muito bom.


Como você vê a referência que eles trazem do espetáculo anterior para esse agora? É um processo que teve continuidade ou você está partindo de outra premissa?


Antes, eles não coreografavam, tinham medo, era só o improviso. Hoje, eu falo com eles “a música é essa, o trecho é esse, eu quero a coreografia”, e eles montam sem medo. Eles sobem no palco de uma forma completamente diferente de antes, são muito profissionais. Nesse espetáculo, eu vou fazer, praticamente, direção artística e coreográfica, eles que vão criar. Quanto mais eles exercitarem a criação, não só fazerem o free style, criarem e mantiverem aquela coreografia, melhor, já que eles têm dificuldades de criar e manter a mesma coisa. Eu vou direcionando todo mundo, a gente está indo para um espetáculo, não está num improviso, tem diferença.


O que define a dança de rua e qual a relação com o break e a cultura hip hop? Em que medidas são ressaltados o estilo, a estética e seu sentido político?


Ela tem essa identidade com o break porque ele foi a primeira expressão corporal do movimento hip hop, junto com essa sonoridade, a música, que vem até hoje com a black music, o funk americano, então, tem muita referência do break sim. Principalmente quem é leigo, se vai assistir a uma coreografia de dança de rua e não vê algum elemento do break, se confunde, acha que não é dança de rua. Existe uma evolução histórica da dança até hoje. O divisor do break para as danças urbanas de hoje foram os clipes do Michael Jackson, que usava alguns passos do break, mas dançava muito mais em pé – e, no break, o pessoal usa muito o chão, não se usava tantos saltos. De lá pra cá, houve muita mudança, muita construção de movimento. Hoje, há vários estilos nas danças urbanas, como Twerk, Afro House, Dancehall, Ragga Jam, entre muitos outros.

O break fica mais enraizado com a questão política. As danças mais atuais já perdem um pouco essa identidade. Tem muitos profissionais que conservam, mas eu creio que se perde um pouco, até por causa das letras das músicas. O comércio degrada um pouco. Eu acho que a gente tem que falar de amor, de paz, de muitas outras coisas, mas é verdade que se perde sim um pouco a questão da luta, da periferia.


Como era a aceitação da dança de rua em relação aos outros tipos de dança e como isso se dá hoje? Há uma abertura à mistura de linguagens?


Eu creio que a maior resistência foi, na verdade, dos grupos de break, que existiam na periferia, ver que a dança de rua estava dentro da Praia do Canto e a gente indo para o Teatro Carlos Gomes. Muito mais isso, porque, nas escolas, muita gente estava dançando. Eu tive inúmeras bailarinas clássicas que dançaram comigo, frequentaram meu grupo. Eu não tive tanto problema, a não ser que falavam que eu não era dançarina de hip hop. E realmente eu não era. Era outro estilo que eu estava trabalhando, era dança de rua, que englobava vários aspectos do hip hop, e se dançava em pé.

Sobre a mistura com outras linguagens, eu acho que o espetáculo “Contemporaneidade em Dança de Rua” abriu muito esse leque. No ensaio aberto, teve debate. O menino que está no grupo de danças urbanas (UDES), Ronaldinho, esteve lá, debatemos, e outros meninos também. Depois disso, eu realmente percebi muitos ampliando a visão, pensando no que poderiam fazer com aquilo ali.


E com o carnaval, como você começou a trabalhar?


Através do esporte, eu conheci várias pessoas das comunidades que são envolvidas com escolas de samba. Eu já estava na dança e, através do basquete, me chamaram para coreografar a comissão de frente da Pega no Samba. Eu amo samba, sempre gostei, é de criação. Minha família sempre foi muito envolvida com samba, é raiz mesmo.

De vez em quando, uma escola ou outra me convidava para coreografar. Conheci o Magno Encarnação, que, quando foi para MUG, falou “Lalau estou com um problema, preciso de gente para ficar na frente da ala para segurar a coreografia, e eu não vou poder porque já vou sair na comissão de frente”. Aí fomos eu e Gislene segurar a peteca dessa ala na frente, que tinha 60 pessoas. Fomos ensaiando. Nesse meio tempo, uma ala comercial da escola não foi vendida, com fantasia pronta e tudo. Acabei pegando essa ala e, em dez dias, a gente montou a coreografia. Desde então, eu não saí mais da MUG. Faz quase dez anos que estou lá.

Depois, no outro ano, fiz ala das baianinhas e, no ano seguinte, fui para a comissão de frente. Na época, foi ótimo, levamos quatro notas dez. No meu quarto ano de escola, fui coreografar carro na MUG, e coreografo até hoje; a comissão de frente está com a Mônica Queiroz. Também comecei com o Samba Show, que é um grupo de samba para espetáculo. Não é de passistas, já que o passista não tem, por obrigatoriedade, uma coreografia. No Samba Show, o grupo dança todas as linhas do samba, inclusive aquela de samba afro do Recôncavo Baiano, misturadas com essa coisa do glamour do cabaré, do teatro de revista. Este ano, estou com muitas atividades e tive de abrir mão de fazer o MUG Samba Show.


Como é seu processo de coreografar no carnaval?


Já existe um enredo e, dentro dele, vou pesquisando e buscando movimentos. Uma vez, o tema foi cerveja na comissão de frente. Eu disse “meu Deus do céu, o que eu vou fazer com cerveja?”. A gente tem que “viajar”. O ponto de partida foi que tinha que ter relação com dança árabe porque o bulbo da cerveja vem de lá, do oriente médio. Por outro lado, eu não poderia fazer uma dança árabe, simplesmente. Ainda por cima, a gente tinha um elemento cênico que era o sol. O sol estava escrito no enredo. O número de vezes que eu coloquei o copo na minha frente para virar a cerveja e ver o movimento que fazia… Para transportar aquilo ali para os braços e para o corpo do pessoal. Aquele foi um desafio bom. Acho que ensaiamos uns três, quatro meses porque muita gente tinha técnica de dança, outros não. Quem não tinha técnica de dança, para mim, não era tanto problema. O problema era quem tinha. Porque o movimento que tinham de fazer era muito mais cru, tivemos que desconstruir o que existia. Este ano, também não foi tão simples fazer carro porque o Samba Show dançou em cima dele, teve muita pegada, muito passo aéreo em cima do carro, senão não apareceria com destaque.







terça-feira, 26 de abril de 2016

Ballet da Rússia em Vila Velha

O Espírito Santo fará parte do circuito brasileiro do espetáculo Stars of the Russian Ballet – A Excelência do Ballet Russo, que se apresenta na Área de eventos do Shopping Vila Velha no dia 7 de maio.
Composto por trechos de conhecidos ballets de repertório como O Lago dos Cisnes, Romeu e Julieta, A Bela Adormecida, O Quebra Nozes, Scheherazade, Giselle, Spartacus, Corsario, Cinderela, Carmen, e Don Quixote, o espetáculo tem em seu elenco 50 bailarinos das mais importantes companhias russas de ballet e seus principais solistas.


SERVIÇO
Ballet da Russia apresenta Stars of Russian Ballet - A Excelência do Ballet Russo
Dia 07 de maio, às 20h
Na Área de Eventos do Shopping Vila Velha (Av. Luciano das Neves, 2418. Divino Espirito Santo, Vila Velha, ES)
Ingressos: R$ 160,00 a R$ 560 (inteiras). À venda no http://www.blueticket.com.br/16843/Ballet-da-Russia/
INFORMAÇÕES: 
Telefone: (27) 4062-9010
Whatsapp: (27) 9.9228-8089


Oficinas Aldeia Sesc 2016

Estão abertas as inscrições para as oficinas do Aldeia Sesc Ilha do Mel 2016, que acontece na segunda quinzena da maio.
O público alvo são artistas, estudantes e produtores da área que queiram se especializar e trocar informações.



A oficina O Corpo Pândego, do Grupo Pândega de Teatro de São Paulo pretende uma aproximação, através da prática, do conceito do Realismo Grotesco. Serão trabalhadas qualidades de movimento afim de desvelar um corpo expressivo.

Já a oficina Performagem, com Maicyra Leão e Audevan Caiçara do Ceará, mescla dinâmicas de um corpo composicional com a técnica de colagem, com base em elementos imagéticos do espaço público. A oficina foi concebida em parceria com a artista visual Manuela Eichner.

 Na oficina de Elaboração de Projetos, ministrada por Cezar Baptista serão abordados temas que envolvem a produção, organização e promoção de projetos e eventos culturais.

Os interessados devem solicitar a ficha de inscrição pelo email artescenicas-es@es.sesc.br ou presencialmente na recepção do Sesc Glória.
As oficinas tem valores que variam de R$6 à R$12 de acordo com a carga horária de cada uma.
Informações: (27) 32324750 e 32230720

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Alma da Gente

O Cine Sesc apresenta o documentário A Alma da Gente, que mostra a construção do espetáculo Dança das Marés, surgido no projeto coordenado por Ivaldo Bertazzo na Favela da Maré no ano de 2002, o dia a dia e os sonhos de seus integrantes e o impacto causado na vida deles 10 anos depois.


 As sessões serão gratuitas e acontecerão na Sala 3 do Centro Cultural Sesc Glória, nos seguintes horários:

26/04 às 19h40
28/04 às 17h10
30/04 às 19h40

segunda-feira, 18 de abril de 2016

2º Dança na Roda dia 23 de abril

A próxima roda de conversa sobre processos de criação em dança acontecerá no sábado, dia 23 de abril, com as artistas convidadas Giovana Gonzaga e Yuriê Perazzini.

Giovana Gonzaga é coreógrafa e diretora da Cia Negraô, na qual já atuou como bailarina, tendo realizado os espetáculos Intensidades Pedem Passagem, O Congado, Negro de Todas as Cores, Furdúncio, Dois em Dança, Ritumba e Farra. Atua como coreógrafa convidada em diversos trabalhos e também se dedica à coreografar escolas de samba do ES. Foi diretora da Cia de Dança Alfazema e também atua como educadora.

Yuriê Perazzini é percursora e divulgadora da cultura Hip Hop e Flash Mob no ES. Fundadora do coletivo UDES, onde atua dançando, produzindo eventos e pesquisando a história das danças urbanas. Capoeirista e pesquisadora de danças folclóricas, populares e acadêmicas nacionais e internacionais: danças jamaicanas e africanas. Atua como educadora de dança em programas sociais.



sábado, 16 de abril de 2016

1º Dança na Roda

Criações de Patrícia Miranda e Gil Mendes são foco da primeira roda de bate-papo





Na tarde do último dia 9, sábado, aconteceu o primeiro Dança na Roda, no foyer do Theatro Carlos Gomes, com a presença da coreógrafa do Balé da Ilha Cia de Dança, Patrícia Miranda, e do diretor e coreógrafo da Cia In Pares, Gil Mendes. Os artistas convidados falaram sobre sua trajetória na dança e seus processos de criação junto aos grupos, e o público interagiu com perguntas e comentários. A próxima Roda acontecerá no dia 23 de abril, sábado que vem, com a participação da coreógrafa e diretora da Cia NegraÔ, Giovana Gonzaga, e a precursora e divulgadora da cultura Hip Hop e do Flash Mob no Estado, Yuriê Perazzini.

No primeiro encontro, os artistas ressaltaram a importância de haver mais espaços de diálogo na dança. “São poucos os lugares que a gente tem para falar sobre o que a gente faz e poder conhecer também melhor o trabalho do outro e compartilhar conhecimentos”, pontuou Patrícia. “Esse é um espaço que agrega e a gente precisa disso, de espaços de encontros”, destacou Gil.

A bailarina Patrícia Miranda contou sobre sua formação em dança, que teve início muito cedo, aos oito anos. Filha de professora de jazz, Patrícia estudou com diversos profissionais ao longo de sua carreira, passando por Elias dos Santos, Renato Vieira, Cia Mítzi Marzzuti e diversos coreógrafos reconhecidos nacionalmente; foi estudar em uma escola na Alemanha e em outros espaços, sempre procurando absorver o que os novos contatos tinham a oferecer. Com a Duo Cia de Dança, começou a coreografar profissionalmente.

Ao transferir seu trabalho de bailarina para o de coreógrafa, Patrícia não experimentou nenhum descontentamento: “Ver o meu trabalho em cena me realiza demais!”.

Gil Mendes, ao contrário de muitos profissionais da dança, começou um pouco tarde, “com vinte e poucos anos”, lembra. Durante intenso período de formação em dança na Bahia, Gil agregou estudos e experiências fundamentais para sua carreira, percorrendo diversas vertentes, a exemplo da técnica de Martha Graham e das danças Afro, Moderna e Contemporânea, sempre em contato com importantes grupos e profissionais da área.

Além disso, descobriu, ao longo do tempo, que preferia ser coreógrafo a dançarino, sendo que seu primeiro trabalho na criação de coreografia foi para uma peça de teatro. “A criação sempre fez parte da minha trajetória, mesmo dançando para outras pessoas. Para mim, o bailarino sempre era um sujeito que participava do processo de criação e isso formou o meu modo trabalhar”, frisa Gil.

De volta a Vitória, Gil Mendes integrou o grupo NegraÔ, que seguia a linha de pesquisa do Afro tradicional. Já contaminado pela dança contemporânea, o artista buscava propostas de trabalho que partiam dessa mistura, também apostando em intérpretes capazes de dançar, cantar e batucar. Em 2008, fundou a Cia In Pares, cujo primeiro trabalho foi Inumeráveis Estados do Ser.

“Me viciei pelo bastidor. Sou um apaixonado pelo fora de cena. Eu gosto muito mais do processo, ele é maravilhoso e não acaba nunca, até porque um dia não é igual ao outro”, revela o coreógrafo.


Para criar o espetáculo: caminhos e visões


Como coreógrafa, Patrícia diz que é bastante intuitiva, que gosta de deixar o acaso acontecer e de abrir espaço para que o intérprete também participe da criação. Até mesmo o que parece ser um erro, alimenta o trabalho da artista. “Isso te tira da zona de conforto dentro do processo de criação, faz ficar vivo, gera uma nova ideia”, pontua.

Para Patrícia, criação é como uma maestria, um trabalho de ajudar a organizar. Ao criar, a coreógrafa acredita que a estética precisa, necessariamente, estar conectada ao que se quer dizer, assim como a técnica utilizada precisa ser clara. “A técnica liberta. Quando você tem a apropriação daquilo que faz, independentemente da linguagem, a técnica te liberta, te dá ferramentas para ir por outros caminhos”, acrescenta.

Gil concorda que, no trabalho do coreógrafo, há um sentido político. “Acho que coreografar não é só juntar passos, seguir uma música. É algo a ser dito”, reforça. Uma das formas que exercita o sentido político do ofício é, por exemplo, trabalhando com pessoas com padrões de corpos diferentes e com pensamentos divergentes. “Acho a diferença algo rico e cria outras possibilidades de construção, outros parâmetros. A dança tem de ser um espaço de inclusão, e, às vezes, ela exclui, seleciona corpos. Eu acho legal um baixinho dançar com um alto, alguém do hip hop com uma pessoa do ballet. A dança tem que ser política no sentido de abrir espaços, de permitir, ainda que preserve raízes, tem que quebrar barreiras”, aponta Gil.
Em sua forma de conduzir o processo de criação, é essencial estabelecer o espaço onde acontecerá a história. “Em Banzo, por exemplo, eu já sabia que seria em uma estação, partindo de um conto de Guimarães Rosa”, conta. O coreógrafo destaca, ainda, que costuma começar a coreografar pelo final e, só depois, encontrar o início. Ao mesmo tempo, não acredita em fórmulas e métodos, prefere desenvolver estratégias de coreografar conforme cada projeto e considera muito importante o acaso, assim como a experiência do próprio bailarino.

“A gente trabalha com movimento, gesto, linguagem, e acho que a linguagem não se esgota. Posso falar algo de milhares de formas. Dançar é produzir conhecimento”, diz Gil.


Criações e pesquisas


Os artistas convidados falaram também sobre alguns espetáculos de suas carreiras. Entre outras obras, Patrícia contou sobre a montagem de Teoria Geral da Fossa, para qual foi convidada por Karla Ferreira, e Gil falou sobre aspectos da construção de Inumeráveis Estados do Ser, Banzo e Inabitáveis.

Em Teoria Geral da Fossa, Patrícia coreografou bailarinos que não conhecia e apostou na criação colaborativa. A artista, que assina a direção coreográfica do espetáculo, conta que utilizou textos de Carmélia – sobre quem a obra fala – e o resultado da participação de pessoas convidadas a falarem sobre aquela época nos encontros com o grupo.

“Carmélia era uma figura marcante. Mas, quando líamos o que ela escreveu, só víamos amor, poesia, seu lado feminino, um espetáculo cor-de-rosa. Fomos tomados pelo afeto. Pensávamos: ‘como pode uma pessoa tão transgressora escrever com tanta delicadeza?’”, revela Patrícia. Dessa forma, o grupo escolheu falar da solidão, da adolescência que a personagem não viveu, do que não era percebido, a partir da vivência corporal dos próprios bailarinos.

“Minha relação com o bailarino é de ‘você pode, está em você’. Meu olhar é do todo, da sensação que aquilo está causando. Essa relação tem que ser construída, do público, do intérprete, de provocar um olhar novo sobre aquilo. Nem sempre as pessoas irão gostar; às vezes, ficarão perturbadas, e aí já se cumpriu sua função. A criação é compartilhada”, afirma a coreógrafa.




A loucura em processos


Em Inumeráveis Estados do Ser, Gil lembra que o grupo, inicialmente, imaginou abordar o tema da loucura de determinada forma, mas a construção do espetáculo tomou outro rumo. “Não queríamos falar do louco, do hospício, queríamos falar da coisa criativa da loucura. Não conseguimos. O processo criativo nos deu uma rasteira”, conta.

Na ocasião, os bailarinos visitaram o hospital psiquiátrico Adauto Botelho e, conforme explica o coreógrafo, voltaram transformadas devido ao que vivenciaram lá dentro. A partir daí, vieram as respostas em um curto prazo, possibilitando a finalização do trabalho.

A loucura também aparece em Banzo, além da saudade. “Nesse processo, encontramos o ‘psiu’, de alguém que está perdido ou ouve vozes. Ao mesmo tempo, buscamos de onde vem o movimento. É pensar no jogo que isso propõe, e não naquilo que já tenho codificado. Como posso falar - com o movimento - de formiga, de poça d’água?”, exemplifica Gil.


Provocar é preciso


Já a proposta do espetáculo Inabitáveis, surgiu de um daqueles momentos de pausa para relaxar e descontrair: “Que tal a gente fazer um trabalho sobre a relação homoafetiva?”. Depois de certa resistência, a aceitação do desafio. “O espetáculo surgiu muito das conversas dos intervalos dos ensaios, dos causos, dos papos de bares com amigos e de um artigo que li – e dele vem o título – que falava do conceito dos inabitáveis para pessoas que tinham encontros fortuitos, às escondidas, como em saunas e espaços de não visibilidade”, explica.

Para a montagem da coreografia, Gil sublinha a repetição, que acontece quase como algo rotineiro, do buscar, do ir e voltar, ao mesmo tempo que pontua uma estratégia coreográfica, a fim de reforçar e mostrar sob outros ângulos aquilo que se quer dizer. Fala-se de uma prática que se repete.




O Dança na Roda é um evento gratuito, promovido pelo Portal Dança no ES, que pretende reunir público e artistas locais para compartilharem suas experiências criativas. As rodas acontecem no foyer do Theatro Carlos Gomes, das 15h às 18h, e é aberta a todos interessados pelo tema. Até a próxima!







sexta-feira, 15 de abril de 2016

Circulação Ser (Tão)

O Coletivo Emaranhado realiza no mês de abril estreia e circulação da performance Ser (Tão), pelos municípios de Mucurici, Montanha, Pedro Canário e Conceição da Barra. Todas as apresentações serão gratuitas.
O projeto Ser (Tão) surgiu no curso ARTE DA PERFORMANCE ministrado pelo Pós-Doutorado em Performance e etnocenologia Cesar Augusto Amaro Huapaya na UFES, com sua orientação os bailarinos Maicom e Ricardo estruturaram uma performance que propôs um trabalho de dança para espaços alternativos.



SERVIÇO
Circulação da performance Ser (Tão) - Coletivo Emaranhado
Dias 21 de abril (Mucurici), 22 de abril (Montanha), 23 de abril (Pedro Canário) e 24 de abril (Conceição da Barra)
Gratuito

Cia Oxente em Vitória

De 21 à 24 de abril, Vitória recebe a Cia Oxente de Atividades Culturais, com o espetáculo Anáguas e com a oficina Danças Folclóricas e Sua Utilização no Teatro.

O espetáculo será apresentado de 22 a 24 de abril no Teatro Universitário da Ufes, e os ingressos podem ser comprados na bilheteria ou pelo site ingresso.com .



A oficina, acontecerá no dia 21 e é gratuita, sendo necessário se inscrever anteriormente pelo e-mail producao@wbproducoes.com



Oficinas do grupo Raízes da Piedade

O grupo Raízes da Piedade oferece gratuitamente as oficinas de Mestre Sala e Porta Bandeira, Passistas, Percussão e Ritmistas no Centro de Vivência da Piedade.
Para maiores informações, acesse a página https://www.facebook.com/raizesdapiedade?fref=ts



Mostra Processos 012

Acontece do dia 20 ao 24 de abril a Mostra Processos 012, que inclui ações realizadas pelos projetos aprovados no Editorial Setorial de Artes Cênicas da Secult ES/Funcultura em 2015.

Neste período o público poderá acompanhar o andamento das propostas por meio de espetáculos, performances, ensaios abertos, rodas de conversas e oficinas nas cidades de Vitória, Montanha, Mucurici, Pedro Canário e Cachoeiro de Itapemirim.

Participam das ações a Cia Negraô, Coletivo Emaranhado, Marujada de Cabôco, Homem Cia de Dança, dentre outros.

O 2º Dança na Roda, promovido pelo Dança no ES é uma das ações, no dia 23 de abril, no Theatro Carlos Gomes.

Confira a programação completa pelo link: https://issuu.com/secultespiritosanto/docs/pdf_online/1


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Pós Graduação em Dança

Estão abertas as inscrições para a pós-graduação em Dança e Consciência Corporal, oferecida pela Faculdade Estácio.
O programa do curso aborda questões históricas, educativas e metodológicas acerca do assunto.

Para maiores informações acesse www.posestacio.com.br, ou entre em contato com Felipe Salles (27) 98865-4310 /  felipesalles2005@gmail.com 


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Temporada In Pares

A Cia de Dança In Pares faz curta temporada no Teatro Carlos Gomes, de 15 a 17 de abril, com os espetáculos de seu repertório, Banzo e Inabitáveis. A cada noite será possível ver os dois trabalhos na sequência.

Sobre Banzo - Guimarães Rosa transcreve para a literatura a saudade, a loucura, o mistério, as despedidas e a vida silenciosa dos sertões mineiro e brasileiro, sempre de forma realista e poética. “Banzo” surgiu dessa inquietação.





Sobre Inabitáveis - Dois homens se entrelaçam. Em meio ao caos urbano, o sexo casual e furtivo é expresso por meio de uma poética visceral. O cotidiano pede enfrentamento e eles buscam a libertação e a completude em seus atos e movimentos. Fetiches, desejos, impulsos, medos e gozos se misturam.





SERVIÇO
Espetáculos Banzo e Inabitáveis - In Pares Cia de Dança
Dias 15, 16 e 17 de abril
20 horas
No Teatro Carlos Gomes (Praça Costa Pereira, s/n. Centro, Vitória, ES)
Contato: (27) 99956-0609 - Paulo Sena

terça-feira, 5 de abril de 2016

Cia Mitzi Marzutti em circulação

De abril a maio a Cia de Dança Mitzi Marzutti realiza circulação do espetáculo Descortinando pelo Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. A ação tem patrocínio da Secult ES/Funcultura através do edital setorial de artes cênicas.

O espetáculo, que estreou em 2015 é resultado da parceria criativa entre a diretora do grupo Mitzi Marzzuti e sua irmã Ingrid Mendonça, que construíram o espetáculo a partir de questões autobiográficas dos bailarinos da Cia., que levaram suas histórias para os laboratórios de criação e as trabalharam a partir de propostas integradas com a psicologia do movimento, a pesquisa de máscaras e com a literatura.



A Cia leva também, para as cidades por onde passará, a oficina Pesquisa do Movimento e Concepção Coreográfica ministrada pela diretora do grupo, Mitzi Marzzuti no qual apresentará técnicas variadas criadas para auxiliar na criação de movimentos como a sensibilização do olhar, do toque, da escuta, da observação dos ambientes bem como a investigação na essência de pontos estratégicos para a linguagem do corpo.

Além disso, os espectadores também poderão apreciar a exposição de fotografias de Carlos Antollini, que acompanha e registra as atividades da Cia de Dança Mitzi Marzzuti desde sua fundação, há 30 anos atrás.



Confira a agenda da circulação:

Dia 08 de abril – Santa Teresa- Museu Mello Leitão

Dia 09 de abril – Linhares- Teatro Municipal Nice Avanza

Dia 13 de maio – Rio Novo do Sul – Teatro Municipal Ivo Mameri

Dia 14 de maio – Guaçuí- Teatro Fernando Torres

Dia 19 de maio – Belo Horizonte –  MG - Espaço Ambiente – Meia Ponta

Dia 21 de maio – Ilheus – BA – Teatro Popular de Ilheus

As apresentações ocorrerão sempre às 19h, e a oficina às 16h do mesmo dia.

domingo, 3 de abril de 2016

1º Dança na Roda dia 9 de abril

No próximo sábado, dia 9 de abril, acontece a primeira roda de conversa do Dança no ES. O evento, que terá como convidados os coreógrafos Gil Mendes e Patrícia Miranda, abordará os processos de criação em dança dos artistas, que compartilharão suas experiências com o público.

Gil Mendes atualmente é coreógrafo e diretor da In Pares Cia de Dança. Formado em Dança pela UFBA, já coreografou para grupos como o Negraô, a Homem Cia de Dança e o Grupo Pequenos Talentos - ACES. Participou do projeto Assuntando o Corpo de Baile - oficinas de dança afro brasileira para Comunidades Quilombolas em São Mateus, ES. Também atua como professor do curso técnico de dança da FAFI.

Patrícia Miranda é coreógrafa do Balé da Ilha Cia de Dança, mesma companhia em que já atuou como bailarina solista. Ao longo de sua carreira fez parte da Mitzi Marzutti Cia de Dança, dirigiu a Duo Cia de Dança e realizou trabalhos em parceria com Marcos Pitanga. Estudou em diversos centros de formação, como a Escola Nacional de Arte de Havana, Cuba e na Palucca Hochschule für Tanz Dresden em Dresden, Alemanha.



sexta-feira, 1 de abril de 2016

Uma vida dedicada à dança

Precursora do ballet no Estado, Lenira Borges fala sobre vida e arte em entrevista para o Dança no ES


Entre os altos prédios da região da Praia do Canto, mantém-se firme o antigo e gracioso edifício de poucos andares, quase como testemunha do tempo, onde vive Lenira Borges, uma das grandes artistas da dança. Com igual graça e firmeza, dona Lenira, como é conhecida pelos próximos, conduziu sua carreira de bailarina e professora de ballet praticamente ao longo de toda a vida, saindo de Porto Alegre para lecionar em diversas cidades – a exemplo de Curitiba, Teresópolis, Três Rios e Rio de Janeiro –, até chegar a Vitória, no início da década de 1960. Precursora da dança clássica no Espírito Santo, foi responsável pelo desenvolvimento e pela difusão da dança local, quando poucos aqui conheciam essa arte. A partir da criação de sua academia, Lenira Borges Ballet Studio, hoje dirigida pela filha e pela neta (Rosana e Mariana Borges), formou gerações de profissionais da dança, a exemplo de Inês Bogéa, Mitzi Marzzuti, Mônica Tenore, Karla Ferreira, entre outros nomes. Além disso, dedicou-se a trabalhos sociais, realizou festivais, promoveu a vinda de coreógrafos de outras cidades e contribuiu, pessoalmente, para a abertura de espaços com estrutura mínima para apresentações de ballet, a começar pela reinauguração do Theatro Carlos Gomes, em 1970. Hoje, do alto de seus quase 93 anos e ainda muito disposta e bem humorada, entre bordar os próprios tapetes, costurar, ler de tudo, cuidar do jardim e da casa, dona Lenira orgulha-se de seu legado. Não poderia ser diferente: “A dança é minha vida!”, declara a eterna bailarina, que carrega, no corpo e na alma, também a história da dança desta terra que a acolheu.


Confira a entrevista com a artista para o Dança no ES!






DNES: Como a dança está presente na sua vida?


Lenira - Foi minha vida dos 22 aos 70, então, é muito tempo. Foi minha vida toda. Depois, eu parei porque já estava muito velha, com 72 anos. Minha filha e minha neta já estavam dando aula, e hoje estão à frente da academia como diretoras, a Rosana e a Mariana. Elas fizeram o mesmo curso que eu fiz na Royal Academy of Dance, com os mesmos diplomas.


Com quantos anos começou a dançar? Quando foi que percebeu que era isso o que queria fazer?


Foi engraçado. Não fui eu que comecei, foi a minha irmã. Eu fui assistindo às aulas, me empolguei e acabei fazendo aula com a Tony Seitz Petzhold, que era professora no Rio Grande do Sul, uma alemã. Depois, meu pai se mudou para Curitiba e nós interrompemos os estudos para ir para lá.

Em Curitiba, minha madrasta, na época, trabalhava com assistência às crianças pobres. Conversando, tiveram a ideia de fazer um festival de dança para ajudar na renda das coisas que elas faziam, então, eu e a minha irmã ficamos encarregadas de realizar o festival, porque, naquele meio, nós éramos umas das poucas filhas das senhoras que trabalhavam lá que faziam ballet e conheciam o assunto. Nós preparamos um festival em um dos cinemas de Curitiba, porque Curitiba ainda não tinha palco. Foi muito bem recebido pelas meninas, por toda a sociedade, foi um sucesso muito grande e as gurias não queriam mais parar de dançar. Foi assim que eu e minha irmã nos transformamos em professoras de ballet. Até então, eu só dançava.



É verdade que mais deu aula que se apresentou?


Eu nunca me apresentei, porque meu pai era daquele método antigo de que tudo era proibido para gente. O palco, então, era considerado algo de prostituta, como todo mundo que leu um pouco sobre dança sabe. Algumas bailarinas da Europa tinham que se prostituir para ganhar a vida dançando. Então, ficou meio um tabu de que bailarina e prostituta era a mesma coisa. E o meu pai foi assistir a uma aula, não achou nada que pudesse reprovar, então, disse “pode estudar, mas não pense em pisar num palco, a condição é essa”. Eu também não estava nem pensando em palco naquela época. Por isso, nunca dancei, mesmo depois que eu dava aula.

Para não dizer que nunca dancei, dancei em Petrópolis, porque a minha aluna, que era solista, no dia da apresentação, a mãe faleceu e ela não tinha condições de ir para o palco. Eu disse “você fica quietinha, que eu, como sei a coreografia, vou dançar no seu lugar, mas você não vai dizer nada para ninguém”. Fiz isso só para não quebrar o espetáculo das colegas dela. Não podia exigir que uma filha que perdeu a mãe fosse dançar. Esta foi a única vez que eu dancei e, só quase no final da dança, uma mãe me reconheceu. Foi a única vez que eu pisei num palco.


E se realizava como professora?



Como professora, vendo minhas alunas brilhar, e, graças a Deus, desde que comecei a lecionar, sempre tive sucesso, tanto em Curitiba, quanto no Rio, como em Petrópolis. Eu lecionei em Petrópolis, Teresópolis, Três Rios e no Rio. Este era meu ganha pão.


Como a senhora veio para Vitória?


Da primeira vez, eu não vim para ficar em Vitória, vim trazer a Rosana, que era neném, tinha recém-nascido. Meus pais já moravam aqui, então, vim trazer a minha filha para eles conhecerem. Ela era única, que eu ganhei depois de oito anos de casada pensando que não ia ter mais filhos. Quando a Rosana nasceu, eu tinha 30 anos. Naquela época, era gravidez de risco.

Quando cheguei, o embaixador Paschoal Carlos Magno estava aqui e, na ocasião, me convidou para assistir a uma apresentação de dança. Em determinado momento, ele disse “Lenira, você podia vir lecionar aqui”. A diretora da Cultura Francesa estava junto conosco e disse “vem, dona Lenira, que nós também te apoiamos”. Eu disse que eu estava tão bem onde estava, que iria pensar. Quando cheguei no Rio de volta, o Paschoal estava lá e voltou a falar no assunto – “É uma boa, hein, teus pais estão lá...”. Tanto ele insistiu que eu resolvi fazer assim: eu vinha uma vez por semana para dar aula em uma escola que tinha aqui perto.

Meu irmão era diretor da Escola Técnica e visitava quase todas as escolas. Ele disse “você pode começar a dar aula lá no colégio”, e foi aí que eu comecei a dar aula sábado numa sala lá do Colégio Ângela de Brienza, que nós transformamos numa provisória sala de ballet. Tinha umas 12 ou 15 alunas. Até que começou a ficar pequeno o espaço.


Em que momento decidiu ficar de vez aqui?


Eu fiquei uns dois ou três meses vindo para dar aula e voltava para o Rio, o que era muito complicado porque tinha a Rosana pequenininha, e eu tinha que trazê-la porque ela mamava. Depois, eu passei para o Parque Infantil Maria Queiroz de Lindenberg, onde funciona a academia até hoje. Falei com a diretora do parque, ela me cedeu um salão e passei a dar aula lá, até que eu disse “sabe do que mais, eu vou mudar pro lado de cá, porque essa coisa de ir e vir não vai dar certo”. Tive que arranjar pessoas para me substituir porque eu tinha quatro cursos no Rio, consegui e vim com a Rosana, que ainda não tinha nem um ano. Até hoje estou aqui, há cinqüenta e poucos anos.


Não havia escolas de ballet aqui, na época. A adesão das alunas foi rápida?


Eu comecei a ter mais alunas. Veio a tal da “Karina” no cinema, que era um filme de uma bailarina, aí fiquei abarrotada de aluna, não sabia mais onde botar aluna porque todo mundo que viu o filme queria ser bailarina. Depois, desistiu porque era aquele fogo de palha, aquela empolgação, até que vai peneirando e só fica quem gosta mesmo.

Mas, como naquele tempo eu era única, a procura foi aumentando. Depois, apareceu uma academia em Vila Velha, que também existe até hoje, e, de vez em quando, a gente combinava de ir lá dançar.


A senhora, então, quando veio para cá, não tinha noção do que iria acontecer; não havia muitos planos?


Foi se desenvolvendo naturalmente, eu não fiz nada assim de extraordinário. Lógico, tive as meninas que assumiram a divulgação na televisão, divulgação no jornal, os repórteres vinham entrevistar a gente, essa divulgação normal de tudo que surge em qualquer cidade.

E Vitória, para mim, é uma coisa gostosa. Aqui era só residencial, era linda, gostosa, maravilhosa, era árvore que tinha flor que era a coisa mais linda que você pode imaginar. De a gente parar e ficar olhando. Eu, que vinha do Rio, daquela selva de pedra, me encantei.


A cidade não estava preparada para ter apresentações de ballet, não havia estrutura. Como foi esse processo de abertura de espaço?


Depois de certo tempo, as alunas mais adiantadas queriam dançar mais. Elas dançavam uma vez por ano e olhe lá, porque não tinha nem teatro. O Theatro Carlos Gomes era um cinema que era só poeira. Tinha cada rato lá dentro... Era um horror o teatro. Aquele teatro que está hoje lá, quem pagou o começo da reforma fomos nós. Tantas vezes fomos dançar lá... E eu fazia de propósito, apresentava as meninas, convidava desde governador, prefeito, botava todo mundo lá dentro para eles verem o estado do teatro, porque dava vontade de chorar. Ver aquele teatro lindo morrendo aos poucos. Todo quebrado, as cadeiras a gente tinha que consertar, tinha que lavar para o povo sentar. A gente é que tinha que limpar. E havia um piano lá que a pessoa responsável queria deixar no palco e o palco era pequeno, ela não podia deixar o piano no palco para dançar. Aí eu botava lá no fundo da coxia e brigava pra burro. Eu e ela brigamos o tempo todo (risos). Eu ia nas floriculturas, pedindo para botar flores no palco para melhorar, porque estava uma coisa horrível. E assim foi a luta até que conseguimos inaugurar a reforma.

Depois, eles não queriam o ballet de jeito nenhum para a inauguração. Mas quando eu quero, eu quero, e fui ao governador, que me prometeu que o ballet inauguraria o teatro. Realmente, ele lutou com o cara do teatro, dizendo que já tinha dado sua palavra para mim. Tanto que eles não fizeram nem programa, de tão brabos que ficaram. Meu marido fez todo o rascunho do programa, deu para eles imprimirem – tu imprimiste? Nem eles! Ficamos sem programa. Não existe o programa da inauguração do teatro!


Essa apresentação já foi com o Grupo Experimental de Dança do Espírito Santo, que a senhora chegou a formar?


Não, aí foi a escola toda. O Grupo Experimental foi depois disso, quando o teatro já estava usável, que aí nós fizemos um grupo, fomos ao Rio dançar na apresentação da Associação de Dança no Rio. Era formado por diversas alunas minhas das mais adiantadas. Eram umas 8 ou 10 meninas.


E elas chegaram a se profissionalizar?


Não. Todo mundo se diz profissional, mas eu tive duas no começo, e umas quatro ou cinco nesses anos todos. Para ser profissional de ballet mesmo, você tem que amar a dança, mas amar assim... eu não deixo a minha dança nem pelo meu namorado que eu mais gosto. Isso é muito difícil você conseguir aqui. Eu tive algumas alunas que fariam isso, só que os pais foram cortando porque não queriam. Foram poucas, mas que seriam grandes bailarinas, se tivessem continuado. Eu vejo todo mundo dizendo que dançar bem, muita gente dança, mas chegar a ser uma profissional, dedicada de alma àquilo, não é fácil, e eu digo de coração: não é fácil.

Não é para todo mundo, não é uma coisa que se faz “ah tem a fulaninha dançando, vem, vai ser profissional”. Não adianta, ballet é uma coisa que sacrifica muito, exige muito, ele dói. Ele não é gostoso. Ele dói o pé, as costas, o cansaço dói... Para ser profissional, são três, quatro horas por dia, não é fazer uma hora, meia hora. Então, para ser profissional, como em qualquer profissão, ou você se dedica ou você vai ser um péssimo profissional, ou não vai ser. Não existe meio termo para profissional. Eu acho que em profissão nenhuma.


A senhora também promoveu alguns festivais, como o Festival Capixaba de Ballet e o Festival Lenira Borges Ballet Studio. Qual era a importância desses festivais naquele período?


Para as meninas, foi muito importante e para a escola também porque divulgou o trabalho. Muito pai não sabia nem o que era dança. Me perguntavam: “Dona Lenira, me explica o que é a dança?”. Agora, eu te pergunto, como se explica o que é a dança? Você pode explicar, falando, o que é a dança? Aí eu disse, olha, sabe de uma coisa, eu não vou te explicar, vou apresentar uns filmes para projetar para vocês verem o que é dança. E realmente foi o que eu fiz. Eu fui ao Rio, falei com o Paschoal, que era embaixador, e ele conseguiu com a embaixada alemã, a inglesa e a russa alguns filmes maravilhosos que eu projetei na Escola Técnica, e os pais foram ver o que era ballet.

Pra eles, ballet era uma dança, mas como vai dançar? Era muito limitado o conhecimento – não digo de todos; um ou outro conhecia, mas a maioria não sabia o que era o ballet.


Como eram as apresentações, além dos filmes?


Eu passava os filmes para eles entenderem o que era ballet e apresentava as alunas, dentro da medida do possível. Primeiro, eu coreografei, depois, à medida que fui desenvolvendo, arranjava coreógrafos – Renato Magalhães, que era o primeiro bailarino do Teatro Municipal e coreógrafo há muitos anos; tive coreógrafo de jazz, de moderno, tive um bailarino americano que veio pra cá, fui procurando tudo o que havia de dança, trouxe a Mercedes Baptista, que fez Afro. Tudo o que eu podia proporcionar a elas eu proporcionava, porque eu sabia que era o único jeito de tomarem conhecimento em outras danças, outros estilos. Elas faziam aulas clássicas, mas conheciam tudo isso porque tinham que fazer algumas aulas para entender o que os coreógrafos queriam.


O que a fez ser uma boa professora?


Eu acho que foi porque eu transmitia aquilo que eu recebia da minha professora, porque eu não era uma professora boazinha, era muito exigente. Queria tudo perfeito, ordem, disciplina, tudo isso eu exigia dentro da minha sala. Quando eu não conseguia, ia no grito, mas ia. Porque eu era conhecida por isso também. Pai de aluna mexia comigo “dona Lenira, lá da esquina eu ouço seus gritos”. Eu dizia “que bom! Se você ouve de lá, a turma toda deve me ouvir aqui”.

Eu acho que qualquer coisa que a gente se dispõe a fazer, ou faz bem feito ou não faz. Então, para você ter uma aula boa, bem feita, tem que haver disciplina. Nunca uma aula de dança pode ser feita com a indisciplina porque não dá. A própria técnica da dança é disciplinada. Tanto ela endireita como entorta. Se for indisciplinada, pode deixar você para o resto da vida dolorido; mexe com todo o físico do aluno, inclusive com a coluna, o pé, o braço, tudo, então, ou ela dá uma aula muito boa, ou não dá.


A senhora sempre fez dança por amor?


A dança, primeiro, eu fiz por prazer, depois eu fiz por necessidade, porque tinha que sobreviver, e, depois, eu me apaixonei por ela. Me apaixonei porque foi o que me deu meio de viver, me sustentou, eu estudei a fundo, me aprofundei, aí se tornou minha vida. Aí o negócio mudou. Enquanto era só para me distrair, era uma coisa, depois que passou a ser profissão, foi outra.

A dança me conquistou. Foi o contrário. Em vez de eu conquistar a dança, a dança me conquistou. Não sei se foi a dança, se foram os alunos, se foi a dedicação, se foram as dificuldades, eu não sei te dizer o que foi. Só sei que, no fim, eu amava a dança. E amo até hoje.




Quer conhecer um pouco mais sobre a vida e a carreira de Lenira Borges? Acesse a biografia da artista escrita por Inês Bogéa, disponível no Banco de Textos do blog, ou diretamente neste link.