Encantado pelo circo e com
natural desenvoltura para a dança desde criança, Jeremias Schaydegger veio de
uma família grande, com 13 irmãos, que, embora não tivesse proximidade com a arte,
nunca o impediu de dançar. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, escolheu sua
cidade natal como lugar para desenvolver sua carreira como bailarino, professor
e coreógrafo. Mesmo com todas as dificuldades de quem tenta viver da dança com
poucos recursos e estando deslocado de uma capital, Jeremias buscou conhecimento
além de suas fronteiras geográficas, tendo, inclusive, integrado a Cia. de Dança
Mitzi Marzzuti, em Vitória, e estudado na Escuela Nacional de Havana, em Cuba.
Entre seus maiores aprendizados, contudo, talvez esteja a arte de sorrir cada
vez que o mundo diz “não”, como canta Maria Bethânia, por quem se diz
apaixonado. A superação dos nãos e das limitações através da dança acabou por
se tornar uma de suas bandeiras, levando-o a fundar inúmeros projetos sociais e
de inclusão de pessoas com deficiência. Além disso, Jeremias é fundador do
Núcleo Cachoeirense de Dança. Confira abaixo a entrevista que o artista
concedeu ao Portal Dança no ES!

P: Como foi o começo da sua trajetória na dança?
Desde pequenininho eu já gostava de dançar, e com certeza eu
tive contato com dança em uma outra vida, carrego desde pequeno essa
característica. Eu sempre morei em Cachoeiro. Nunca nós tivemos aqui aulas de
dança. Eu soube, depois de muitos anos, que lá pelos anos 60, dona Lenira
Borges fez um trabalho aqui, mas acho que eu era pequeno demais ainda, não
cheguei a saber. Então o Sul ficou meio isolado.
Na realidade, a dança começou a andar mesmo de uns 10, 15
anos para cá, porque até então eram grupos que faziam a história, como a
companhia de Mitzi Marzzuti, com a qual eu dancei por muitos anos; eu
participei da primeira formação dela. Mas naquela época e até hoje eu acho que
é muito difícil caminhar e batalhar com a dança.
Minha primeira apresentação foi aos 6 anos de idade, quando
uma professora de educação física da escola me convidou para fazer parte de um
teatro musical da Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. Eu acabei virando o
caçador, não sei como, e aquela coisa de pisar no palco, de cantar, de atuar,
mesmo sendo uma coisa muito simples, me encantou. Depois dali, elas começaram a
me inserir em atividades de ginástica olímpica e viram que eu tinha muito
jeito, e comecei a dançar depois no festival de dança que tinha todo ano na
cidade, no festival de folclore que também tinha e era parte do calendário
festivo da cidade. E a gente começou a fazer coreografias e a dançar na época
dessa escola.
Em 79, a Denise Prates chegou aqui em Cachoeiro como a
primeira pessoa com academia de dança, eu fui fazer aula, fiquei 5 anos com
ela, depois eu comecei a fazer curso fora e a minha seta virou.
P: Foi nesse momento que você compreendeu que seria essa a
sua carreira?
Sim, até então eu tinha tentado fazer faculdade de
arquitetura, mas fiquei reprovado no vestibular. Mas quando fiz vestibular, eu
já dançava como iniciante. Como não deu certo na prova, pensei em pegar firme
na dança; eu percebi que aula de dança eu tinha como algo sagrado, porque eu
não faltava, podia estar com febre, doente... eu ia à aula! Então eu percebi,
nesse momento, que era uma coisa que eu gostava muito de fazer, além de já ter
nascido com um monte de coisas no meu corpo mesmo, eu já tinha uma meia ponta
alta, bonita, parecia que eu já fazia aula de dança há muito tempo. Várias
pessoas que me chamavam para dançar achavam que eu já tinha muita experiência.
Em 1986, eu fui fazer o primeiro curso fora, em Belo
Horizonte, com o Grupo Corpo. Quando eu cheguei lá, eu senti que faltava muita
coisa para mim, porque eu não tinha um trabalho técnico desenvolvido, eu não
conhecia a técnica da dança, não conhecia a nomenclatura de quase nada. Aí eu
cheguei naquele curso e percebi que eu não estava, nem de longe, perto deles.
Quando eu digo que a seta virou, foi no sentido de ir buscar o que tivesse
semelhança com o que eu fiz lá. Então eu já fui fazer um ano de Jazz com a
Ruthinha Melo, que era uma outra professora daqui na época.
No ano seguinte, chegou uma amiga minha lá na academia onde
eu comecei a dar aula. A Fafá tinha chegado da África, onde tinha morado 4 anos.
E ela quis montar um grupo de dança afro-moçambicana. Ela chegou com um monte
de coisas diferentes, com uma técnica de dança diferente, tudo me encantava
muito. Eu não tinha um gosto definido para a dança. Tudo o que eu via e achava
que era consistente para mim, eu entrava e embarcava junto. Montamos um grupo
de dança afro chamado “Un, Deux, Trois”. Mas, de pessoas negras, havia umas
três só. A gente montou um espetáculo chamado “Mãozinha no Tamborim” e ficou
dançando essa coreografia; para onde nos convidavam, íamos apresentar para
mostrar como era o trabalho para o pessoal que não conhecia.
Eu, na época, trabalhava na Secretaria de Cultura aqui em
Cachoeiro, na Prefeitura, e em 87 o secretário pediu que eu organizasse uma
mostra de dança aqui, aí convidei grupos de Vitória da época, e o grupo de
dança afro também foi dançar “Mãozinha no Tamborim” nessa mostra; aí a Mitzi
viu e me convidou para participar da companhia dela, que estava começando. Um
bailarino não tinha disponibilidade para viajar e teve que sair, e eu entrei no
lugar dele, na primeira formação da companhia. Fiquei com a Mitzi uns oito ou
nove anos. Eu acho ela maravilhosa como mentora, de uma cabeça incrível e uma
sensibilidade maior ainda.
P: Nesse período você teve que vir para Vitória?
Sim, mas eu ia três vezes por semana. No final de semana,
quando tinha viagem, eu ia sexta, já ficava direto e voltava depois. Uma
loucura, mas eu tinha certeza de que era aquilo que eu queria. Eu fiquei um ano
e meio morando em Vitória e não tinha grana para vir aqui em Cachoeiro ver
minha mãe. Eu chorava até dormir. Foi muito perrengue, que eu acho que qualquer
pessoa já teria desistido.
Eu fiquei com a Mitzi esse tempo e comecei a dar aula lá
também. E aí eu tive que sair da companhia porque a vida vai te cobrando, vão
chegando outras responsabilidades, eu comecei a dar mais aulas, assumi aula no
dia em que eu ia para Vitória, aí já ficou mais difícil de eu ir. E acabei
ficando meio ilhado aqui em Cachoeiro, porque tudo acontece mais em Vitória
mesmo. Mas sempre que eu tenho uma oportunidade estou fazendo e buscando alguma
coisa, porque, principalmente na arte, as coisas mudam muito, é uma evolução
constante, o novo está vindo e a gente não pode ficar longe dele.
P: E você acabou indo a Cuba, ganhou um concurso de dança
lá; como foi isso?
Eu estava aqui em Cachoeiro e a Patrícia Miranda me ligou
dizendo que estavam organizando um grupo para ir a Cuba fazer um curso.
Chegamos lá e foi muito bom, porque eu fazia aula de manhã em uma escola até o
quinto ano e de tarde eu fazia na médio profissional, que era considerada
ensino médio para eles. A gente ficou 3 semanas, sendo que, na última, estava
programado de a gente descer para uma praia chamada Varadero, que é muito
famosa. Quando a gente chegou no hotel, o Lázaro, um animador de piscina que
ensinava ritmos cubanos, falou que precisava de um casal para representar o
hotel num concurso internacional de dança que ia ter do carnaval de Cuba, como
se fosse rei e rainha do carnaval. O que determina esse evento são quatro
ritmos cubanos, que você precisa conhecer e fazer toda a encenação necessária.
Todo mundo falou “vai, Jerê; vai, Liliane!”.
Liliane é uma outra amiga, que é dona do Espaço da Dança em
Vila Velha, e a gente acabou topando. E aquele negócio de concurso
internacional estava soando meio engraçado para gente, porque já estávamos ali
meio de férias. No dia, ele ensaiou a gente por meia hora, sendo 12 minutos de
coreografia, com quatro ritmos. Ele deu uma camisa do hotel para mim e para
Liliane, a gente entrou na van e foi. E não tinha uma torcida, tinha só um
amigo dele com um apito, porque se pagava para entrar e ninguém tinha mais
grana no final da viagem. Mas a gente ainda estava com aquela sensação de que
era uma coisa simples. Chegando lá, colocaram a gente numa sala grandona,
parecia salão de igreja, aí começou a dar um frio na barriga. Nós percebemos
que tinha um casal de cada país.
Aí eu fiquei sabendo que tudo de melhor de Cuba estava ali,
todas as companhias estatais de cultura estavam lá, os cantores todos estavam
lá, e a gente achando que seria uma coisa boba, uma festinha. Eram 36 casais em
três subgrupos, e a gente pegou o último grupo. Bebida para gente era de graça,
começamos a beber. No segundo grupo, a Liliane falou “vamos ganhar esse negócio
aqui hoje?”, aí eu disse “então vamos parar de beber”. Conclusão, a gente subiu
no palco, participou de tudo e no final eles chamaram o primeiro lugar de cada
ritmo; a gente ficou com primeiro lugar em conga, em mambo e primeiro lugar
geral. Meu nome está lá na plaquinha, em livro!
P: Ao longo de sua trajetória, você optou por não sair de
Cachoeiro. Como vê isso para o cenário da dança na cidade?
Nunca saí daqui, só saí por um ano e meio, em que eu morei
em Vitória direto. Mas na época eu dançava com a companhia, fazia aula, dava
aula em outros lugares, trabalhava em barzinho em Jardim da Penha, eu corria
atrás porque tinha que pagar o aluguel da casinha e tinha que, de certa forma,
me manter como desse ali. Na época, eu sabia que era bem puxado, mas hoje eu
falo que cada roncada que a minha barriga deu de fome valeu a pena.
Valeu muito porque eu não me vejo hoje sem a dança, eu acho
que a dança sempre vai existir na minha vida, acho que ela vai ser sempre meu
remédio, minha cura. A minha cabeça não para de pensar em dança. Eu tento
colocar a dança em tudo o que eu vejo, em todas as pessoas, então eu falo que o
fato de eu ter ficado meio em uma concha aqui no Sul me fez, de certa forma,
ver a dança por um outro lado.
Eu sou praticamente o fundador de um projeto aqui, o Projeto
Mova-se, que é de inclusão, de acessibilidade; eu sempre me apeguei muito às
causas sociais, sempre que eu dava aula na academia, pegava criança na escola e
levava, arrumava madrinha para pagar uniforme, para pagar uma roupinha para
dançar. Sempre tive essa mão. Porque eu acho que as pessoas merecem isso. Eu
não posso trabalhar com uma coisa que seja limitada apenas para quem tem
condição de pagar. Acho que todo mundo tem o direito de ter arte na vida, a
arte salva.
Hoje, mais do que tudo, eu falo que a dança é remédio, que a
dança é pomada, que a dança cura amor que se foi, então a dança faz um monte de
coisa dentro da gente. E ainda hoje, em pleno século XXI, a gente ainda sofre
muito preconceito, quando os nossos ancestrais dançavam para tudo, se chovia,
eles dançavam para agradecer, se não tinha chuva, eles dançavam para pedir.
P: Você desenvolveu projeto com a APAE; projeto Dançarte;
ganhou título de Guardião da Solidariedade, em 2013. Conte um pouco mais sobre
sua atuação em projetos sociais.

Hoje eu trabalho com as aulas de ballet com as crianças a
partir de 3, 4 anos. E quando eu comecei a pegar cerca de 20 crianças na escola
para dar aula de dança, não me contentei com aquilo; aí na semana seguinte eu
estava dentro da escola de surdos, pedi ao diretor da escola de surdos para eu
tentar fazer um trabalho com eles, que eu não conhecia, porque eu não tinha
formação em dança adaptada, então eu fui muito no meu impulso, no meu instinto.
Deu certo, falei “vou ficar vindo toda semana aqui também”, na semana seguinte
eu fui para a APAE, cheguei lá e conheci um monte de crianças com síndrome de
down, eu fiquei apaixonado. Conheci as pessoas que tiveram paralisia cerebral,
cadeirantes, e pronto, ali eu estava com ingrediente para fazer uma salada
muito boa, muito gostosa. E comecei também a entrar nesse universo das outras
deficiências.
P: Você realmente entende a dança como sendo para todos...
Sim. E eu gosto muito de explorar os limites das pessoas.
Teve uma coreografia que a gente fez que tinha três alunos cadeirantes lá da
APAE. No ano seguinte eu voltei na APAE (porque sempre faço esse trabalho no
primeiro semestre), quando eu cheguei na quadra, tinha um aluno cadeirante
jogando futebol. Isso porque, no ano anterior, eu falei “você vai descer da
cadeira e vai voltar”, então ele se virava para descer da cadeira, dançava no
chão, depois ele voltava para a cadeira. Era uma coisa que ele não fazia antes,
ele foi estimulado a fazer, artisticamente. E quando ele percebeu que ele
conseguiu fazer aquilo, deu um gás nele e ele estava jogando futebol.
Então eu falo que aonde a dança vai, ela puxa coisa da
gente, ela te faz chegar a lugares onde você não imaginava. E em 2004 nasceu o
Projeto Gente, que é esse projeto de dança inclusiva. No ano seguinte, o grupo
do NCD foi dançar em Vargem Alta. Cheguei lá, uma amiga minha, que foi minha
amiga de escola e que tinha perdido a visão, estava sentada na plateia, e eu
cheguei perto dela, sentei, me apresentei. A gente sempre foi amigo. Aí eu
perguntei “você quer dançar comigo?”. A coluna dela ficou ereta e respondeu “é
sério?”. Eu disse “é, você quer dançar?”. Ela disse “quero!”, e Maristela
passou a fazer parte desse elenco de convidados. Todo ano, quando ela pode, a
gente monta números, sempre com alguém dançando junto. Descobri formas
diferentes para trabalhar com cada deficiência.
P: Você deve ter aprendido muito, né?
Foi e está sendo uma grande escola, ao mesmo tempo uma
realização, porque eu estou vendo que a dança está sendo para mim, hoje,
realmente tudo o que eu sempre imaginei. E eu monto esse espetáculo e coloco
meus alunos de ballet para conviver com essa realidade, com essas diferenças,
para, quem sabe, torná-los cidadãos melhores, com respeito ao ser humano, com
empatia.
E eu vejo coisas maravilhosas ali na coxia, nos bastidores,
criança conversando com surdo sem nunca ter feito nenhum curso de Libras. Acho
que, quando se ama, existe um código, essa comunicação acontece de uma forma
muito verdadeira. No final, na hora de agradecer, criança brigando para
empurrar a cadeira de rodas, para entrar no palco. Então eu acho que consegui
atingir meu objetivo com ser humano, como professor de dança e como uma pessoa
que acredita no real poder da dança para a humanidade. Eu acho que a dança é
realmente uma arma do bem para que as pessoas se sintam melhores e se vejam
melhores.
P: O Núcleo Cachoeirense de Dança (NCD), quando e como
surgiu?
O Núcleo surgiu em 1991, lá na academia da Jerusa Altoé. Comecei
a fazer um trabalho lá bem legal, eu ainda estava em processo com a companhia.
Eu fiquei lá por dez anos, e depois eu fui para uma sala que a gente pegou lá
no Centro e eu fui mudando e, desde 2007, estou na academia onde trabalho até
hoje. O Núcleo me deu muitas coisas boas também, de trabalho que a gente
montou, de festivais de fim de ano, um grupinho que eu formei lá dentro, porque
a gente tem uma realidade ainda aqui... hoje já existem algumas faculdades, mas
antes ninguém ficava, todo mundo, chegava uma época, tinha que sair da cidade.
Quando o aluno chegava num ponto legal para começar a dançar, tinha que sair
por conta de estudo e não voltava mais.
Atualmente, aqui em Cachoeiro, particularmente, a gente está
sofrendo muito, porque há dois anos nós estamos sem teatro devido à enchente. Quase
um ano depois da enchente, veio a pandemia. E infelizmente eu não ouço falar
nada, de ninguém, sobre uma esperança, que seja, para que o teatro volte a
funcionar a todo vapor, porque é um público muito grande que depende disso, de
artistas e pessoas que trabalham nisso, e o teatro aqui, acho que como em todo
lugar, funciona como uma grande máquina de fazer cultura. O tempo inteiro tem
gente aprendendo, tem gente nova aparecendo, então essa roda parar de girar é
uma coisa muito ruim, porque você se sente limitado.
P: Falando do Teatro Rubem Braga, você levou muita gente
para aquele palco, não é? Jovens que talvez nem sonhassem em se apresentar em um
teatro como aquele.
Muitos. Esse projeto mesmo... De 2000 até 2004 eu tive um
projeto com a Prefeitura, em que a gente trabalhava com 100 alunos da rede
pública, em 4 turmas de 25 alunos por ano. Todos os bairros periféricos, todos
os “Altos”, como falo, Alto Zumbi, Alto Coramara, Alto União, Alto Village...
eu consegui descer com aluno para fazer aula ali no Centro. A gente trabalhou
com quase todas as escolas da rede pública aqui na época.
Então é uma pena que esses projetos não tenham continuidade,
porque troca-se o prefeito e tudo muda. As pessoas não têm interesse em
continuidade, as coisas sempre se quebram, e aí você tem que partir do zero
novamente. Se não tivesse parado, o movimento da dança hoje seria outro aqui. A
gente tinha o festival de dança das escolas, que levava dez mil pessoas de
público para os ginásios de esportes lá na Nova Brasília. Foi uma época legal,
porque você via muita gente talentosa, tanto dançando quanto coreografando.
Isso acabou. O grande fomentador da dança, na minha opinião, foi esse festival.
P: Você acredita que a dança é uma forma de transformação
social?
Acredito, através dessas políticas públicas, em primeiro
lugar. Promover a chegada da dança em lugares que muita gente acha que é
impossível; tem que ter bons profissionais, pessoas que queiram realmente se
despir de qualquer coisa para poder fazer esse objetivo ser atingido, porque
nem sempre chegar a essas crianças é fácil. A gente precisa de pessoas que
façam e que tenham essa paciência de quebrar esse gelo, de chegar ali e começar
a crescer o trabalho junto àquela criança. E encontrar pessoas e órgãos que se
comprometam em ajudar a conclusão dessas ideias e fazer com que isso se
perpetue, e não deixar como se fosse uma ação da “minha pasta”. A dança, como
qualquer outra atividade, tem que ter continuidade, você não faz um ano, dois
anos e se forma, tem que haver uma continuidade. E aqui principalmente, em
Cachoeiro, a gente precisa de mais espaços culturais para a cidade. A cidade
está crescendo e nós não temos quase nada aqui, e o que tem está parado. Então
eu acho que tem que ter mais envolvimento político, a união dos artistas mesmo
e acho que tem que haver uma ação para que comecem a mudar as coisas.
P: E você em cena, quando poderemos ver novamente?
Eu tinha uma vontade de fazer alguma coisa no ano que vem.
Ano que vem eu faço 60 anos, então eu queria fazer alguma coisa, mesmo que seja
simples, porque eu parei de dançar, eu não me apresento há uns seis anos.
Quando eu entro agora faço o vovô do ballet, um personagem que pode ser alguém
mais gordinho, um pouco lento, que não tem que fazer pirueta, saltar muito. Mas
estou aí! Vamos ver se a gente começa a trabalhar um pouco nisso. Se rolar um
solo, vou chamar vocês para virem assistir!
P: Você parece conjugar a dança também com a terapia, além da
educação...
Eu carrego para esse lado, então eu gosto de tudo, dançar
descalço na grama, aquelas coisa da bioenergética ou da biodança, é muito
bacana você dançar os sons, os ventos, o movimento das árvores, eu gosto muito
disso, eu presto muita atenção nessas coisas. E você sente que é tudo vivo, o
universo está em movimento o tempo inteiro, ele está dançando o tempo inteiro,
então por que a gente não pode também dançar? Temos que dançar. Que seja numa
boate, que seja num desfile de escola de samba, que seja onde for, mas dance,
se mexa, dançar aumenta a nossa imunidade, dançar só faz coisa boa dentro da
gente.
Todo mundo merece buscar sua felicidade, que seja na dança,
que seja no teatro, que seja nas artes. A arte não pode sair da vida de ninguém,
a arte sempre esteve presente. Temos que fomentar esse público, fazer com que a
arte cresça no meio de cada um, porque acho que tudo vai ser mais fácil quando
você estiver de mãos dadas com a arte.