terça-feira, 31 de maio de 2016

Entrevista: Mítzi Marzzuti e trinta anos de companhia

A coreógrafa e diretora Mítzi Marzzuti fala sobre sua carreira, as propostas e os desafios de sua companhia


Mítzi Mendonça (ou Marzzuti, como assina seus trabalhos) não se sentia muito confortável nas aulas de Ballet na infância.  Ainda que fosse apaixonada pela dança e pela música, se achava pesada e grande demais para o que o Clássico lhe exigia. Foi no Jazz que se encontrou e descobriu o universo que gostaria de explorar com mais liberdade. Estudou dentro e fora do país, ampliou seus conhecimentos e fundou, ao lado de sua irmã gêmea, Ingrid Mendonça, o Conservatório de Dança, que, por 28 anos, formou bailarinos no Estado. Sempre muito ativa, a artista criou a Cia de Dança Mítzi Marzzuti, que celebra trinta anos de existência em 2016 e foi precursora da Dança Contemporânea no Espírito Santo, assim como do movimento profissional da dança em terras capixabas. Além de coreografar e dirigir a companhia, Mítzi costuma buscar o intercâmbio com coreógrafos convidados, que desenvolvem oficinas e participam de montagens com seus bailarinos. Ao longo dos anos, o grupo já recebeu diversos profissionais, como Ciro Barcellos (RJ), Victor Navarro (Espanha), Sylvio Dufrayer (RJ), Renato Vieira (RJ), Suely Machado (BH), Mário Nascimento (BH), Claudia Palma (SP), Sandro Borelli (SP), Alex Neoral (RJ), Ingrid Mendonça (ES), entre outros, e percorreu diversas cidades com apresentações em importantes eventos e festivais de dança pelo Brasil. 


Confira a entrevista!


Fotos: Carlos Antolini

DNES: Como você começou a se interessar pela dança e chegou a se profissionalizar?


Mítzi - Minha mãe é que tinha esse sonho da dança. Aquela coisa das duas filhinhas gêmeas fazendo ballet. Eu sempre fui a mais grandona, mais pesada, minha irmã era magrinha, tinha muita facilidade de subir na ponta, era a primeira bailarina de Lenira [Borges]. Era linda! Eu só comecei a me envolver com a dança depois, quando chegou aqui em Vitória a Denize Marques com o jazz, e foi a Denize que me deu oportunidade de iniciar minha carreira como professora de dança e me fez escolher a dança como profissão. Tive também muita sorte em ter uma mãe e um pai que sempre apostaram e investiram muito nessa questão artística. Minha vida foi toda voltada para a dança, a tal ponto que me inspirou num espetáculo sobre a nossa vida, “Catarse”, que fala sobre quem foi mamãe, por que nós somos assim tão apaixonadas por essa arte da dança. Mamãe dava aula de dança de salão, foi pioneira aqui no Estado, meus tios tinham discotecas no porão das casas deles, sabiam tudo de óperas e teatro, filmes de Hollywood, então, eu vivi nessa família voltada para a arte. Eu e Ingrid estudamos música, instrumentos, violão, violino, eu estudei 12 anos de piano, mamãe nos colocava para fazer tudo quanto era tipo de arte, pintura e todo tipo de dança, afro, dança moderna, jazz, ballet etc (contemporâneo, na época, não tinha). Nossas férias eram para fazer curso e dançar.

Me descobri mais no jazz do que no clássico, porque o clássico precisa de um biotipo que não é o meu, minha estrutura não era para clássico, então eu sofria muito, eu era muito pesada, meus pés ficavam muito machucados, eu quase morria de dor, e não tinha homem para dançar comigo, eles me odiavam! (risos). Tenho a mim como exemplo para as pessoas que se sentem fora do padrão físico e sou feliz por não ter desistido da dança. Entendi que minha “onda” na época era jazz. Fui solista da Denize Marques, que acreditou muito em mim, eu tinha entre 17 e 18 anos. Foi aí que comecei a investir no jazz, fui para o Rio, fiz curso com a Marly Tavares e o Lennie Dale, que, na época, eram os “ban ban bans” da dança aqui no Brasil, e a gente viajava muito, íamos sempre para os Estados Unidos, Holanda, Londres, sempre estudando dança. 

Fiz faculdade de Educação Física na UFES, mas, quando cheguei no último período, apareceu a oportunidade de ir para Amsterdã, eu larguei a universidade e fui e não quis concluir o curso. Casei, morei dois anos na Itália. Quando voltei para o Brasil, já pensava em fundar a minha companhia. Mas, antes disso tudo, em 1979, meus pais abriram uma escola para mim e minha irmã, se chamava Conservatório de Dança, e nós ficamos 28 anos com a escola. Juntas, fundamos o primeiro grupo de dança, porque, naquela época, só havia grupo de escolas, das alunas adiantadas, mas eram todas amadoras, eles não ofereciam uma oportunidade de os bailarinos serem tratados como profissionais. Então, o primeiro grupo que surgiu foi o Grupo Somas, fundado por mim e minha irmã com as alunas mais adiantadas da nossa escola. Toda vez que dançavam, a gente pagava um cachê, e começou essa coisa de buscar o reconhecimento e tratar os bailarinos como profissionais. Depois, Ingrid ficou com a companhia dela e eu fiquei com a minha, até hoje!

Desde o início, eu investi muito na diversidade, nunca gostei de ser a única coreógrafa na companhia. Sempre acreditei que, quanto mais informação a companhia recebesse, mais eles teriam facilidade de entendimento, mais aberturas, e, atualmente, estamos fazendo 30 anos de companhia. Fizemos mais de 38 espetáculos, sendo que mais de 25 foram de coreógrafos convidados, então, a gente tem uma diversidade muito grande no repertório que é muito legal. Quem chega para trabalhar com meus bailarinos sente essa capacidade de assimilar vertentes distintas.


Como foi sendo construída a pesquisa da companhia?


A pesquisa foi sempre com base na diversidade, eu convidando coreógrafos e professores com quem me identificava, e fomos construindo um discurso que não era, por nada, único nem hermético. Sempre gostei de receber coisas novas e acreditar numa busca sem almejar chegar a algum lugar. Mas nunca parar de buscar. Isso nunca! Tenho muita curiosidade em entender o momento de cada coreógrafo, as formas de criar e de onde surgem a ideia e o movimento. Com esse meu estudo, atualmente, dou oficina de pesquisa do movimento. Acabei de chegar de uma circulação nacional com a companhia e ministrei essa oficina em todas as cidades por que passamos, e foi um sucesso! Eu adoro dar essa oficina, é muito interessante o que se consegue das pessoas, e elas ficam muito felizes e entendendo melhor essa dança, que tem início na cabeça e, depois, se conecta com o coração para, então, utilizar o corpo. Acredito que sempre há coisas novas para aprender e que existem muitas pessoas fazendo coisas boas para a gente ver.



É parte da história do grupo convidar coreógrafos. Como você elege e faz contato com essas pessoas?


Eu estou sempre investindo em conhecimento, vendo espetáculos. Quando viajo, estou sempre dentro de teatro. Nessas, eu me encanto por alguns coreógrafos. Procuro saber quem é e entro em contato, chamo para vir, vejo se tem possibilidade e é assim que eu entro em contato com eles.

Foi assim com Mário Nascimento, Suely Machado, Renato Vieira e com todos os que foram convidados. Tenho afinidade com todos! Por último, com o Alex Neoral, eu vi o espetáculo dele com uma companhia dos Estados Unidos na internet e fiquei feliz quando soube que ele era do Brasil, do Rio de Janeiro, e aí eu entrei em contato na hora. Já é a segunda vez que ele vem, montou dois espetáculos para a companhia. Já o Mário Nascimento me fez amar a dança contemporânea e eu já o trouxe sete vezes para coreografar. Agora, ele é meu convidado para o espetáculo que vai comemorar os trinta anos da companhia. O nome do espetáculo é “PRABHUJEE” e estamos em fase de montagem, amando tudo!


E como é, geralmente, o processo de criação entre o convidado e o grupo?


Cada coreógrafo tem uma forma, que eu costumo respeitar sempre. Não os obrigo a nada, estamos sempre prontos a nos colocar à disposição por inteiro, eu e meus lindos bailarinos. Porém, com todos, eu tento primeiro uma oficina, assim, dou oportunidade de se conhecerem. Daí, se inicia a estrutura, qual é a ideia da pesquisa que vai ser desenvolvida. Uns nos deixam no processo de “estudem” e, depois, trabalha-se com o que realmente o coreógrafo quer e, assim, ele começa a introduzir sua pesquisa. Nessa soma, vamos criando movimentos e nos aprofundando nos conceitos e ideias.

Outros não trabalham assim, porém, todos são grandes coreógrafos e abrem espaços para a criação dos bailarinos, se colocam no lugar de diretor cênico e coreográfico. Por exemplo, o Mário tem um corpo que é preciso mergulhar nesse corpo para conseguir entender o movimento dele. Porque Mario tem a dança dele. Não tem técnica de outra linguagem envolvida, é a dança do Mário. Ele é genial, bem louco, rápido e inusitado. Já o Alex tem outra forma, que também é linda e interessante e, na maioria das vezes, poética.

O Sandro Borelli também é muito incrível. Nossa primeira experiência foi louca demais. Depois de estarmos com a estrutura toda elaborada em pé, ele falou “agora deita no chão”, então os bailarinos ficaram de barriga pra baixo buscando fazer, deitados, a movimentação construída em pé e, então, encontrar saídas muito interessantes.

A Claudia Palma também é demais! Nos trouxe a questão da instabilidade, desse corpo nosso no mundo contemporâneo que se aproxima da queda, então, o tempo inteiro, seu corpo tinha que estar perto do chão, mas você não podia cair. Muito difícil para quem executa, e lindo demais!

Não posso deixar de falar da Ingrid, minha irmã, que já assinou algumas coreografias para a companhia, e que sempre leva sua pesquisa de máscaras e literatura, rica e consistente, para os bailarinos, que a admiram muito.

São grandes coreógrafos! Renato Vieira, genial! Concepções cênicas incríveis. O aprendizado sempre é muito rico! Atualmente, todos os coreógrafos que eu chamo comentam sobre essa aceitação e abertura de meus bailarinos. Não temos preconceitos nem bloqueios, somos artistas em prol do que se propõe, mas nada é gratuito, pois não gostamos da vulgaridade. Somos artistas!


E você, Mítzi, como coreógrafa e diretora, quais são seus caminhos?


Preciso saber “por que fazer o que tenho que fazer” para começar a minha pesquisa. Temos uma afinidade muito grande na companhia. Eu tenho vários problemas de coluna, hérnia na cervical, hérnia na lombar, tenho problema no joelho, meu corpo é superlimitado. Eu faço coreografia sem fazer quase nenhum movimento, eu consigo me comunicar com eles. Adquiri isso com o passar do tempo e também por ficar nessa de muitas aulas para sobrevivência, não me aquecia, tinha o trabalho da companhia e tudo sem preparar o corpo, e fui me machucando, e, atualmente, eu consigo fazer muito pouco com o meu corpo.


Você acaba desenvolvendo outras habilidades de dialogar, de se expressar...


Várias. E as pessoas que me veem nessa situação não perdem a esperança de dançar, porque pensam “se ela está nessa situação e consegue se comunicar, consegue resultados bons, eu também posso conseguir, por que não?”. Eu acho que isso é uma esperança que eu levo para as pessoas de que, para dançar, você não tem que ser nem o sequinho, ou magrinho. E a dança não tem só o bailarino, tem o coreógrafo, tem o mestre, professor, roteirista, iluminador, tem tanta opção necessária dentro da dança!

As pessoas, aqui em Vitória, trabalham muito na formação de bailarino, mas você não trabalha a pesquisa criativa, como começa, como termina, o que quer falar, para quê? Traz para mim o que você quer que a gente vai desenvolver. Acho essencial dar alimento para as respostas corporais e me delicio quando elas são totalmente diferentes, muitas vezes, eu gosto mais dos que não têm a escola de dança encruada porque são mais livres.


Em trinta anos, muitos bailarinos já passaram pela companhia?


Muitos... nossa! Todos eu amei. Saíram, abriram escolas, muitos abriram companhia e desistiram porque assumir uma companhia aqui nesse Estado é coisa de gente doida. Tem que ter um amor acima da necessidade financeira, ser muito apaixonado pelo que faz e muito corajoso. É o que eu falo nas minhas audições. Muita gente já foi fazer audição interessada na companhia e não ficou porque meu discurso é esse. Eu não tenho nada para dar para vocês a não ser o que eu sei. Financeiramente, eu nunca tive um patrocínio, eu não posso dar salários, não posso prometer nada a vocês a não ser que eu corro atrás, minha vida inteira, para viajar, fazer apresentações, trazer gente de fora, fazer intercâmbio, investir nisso, dar figurino, transporte, alimentação, essas coisas eu garanto, agora, salário, não, porque tem mês que não acontece nada. Tem ano, como este, do jeito que o Brasil está, que eu fiz doze projetos e só um foi contemplado, então, quer dizer, é triste para uma companhia de trinta anos isso o que está acontecendo. Vamos montar um espetáculo, vou vender carro, vou fazer qualquer coisa, mas eu vou montar. Eu sou doida nesse nível. Eu faço qualquer coisa. Já vendi casa, telefone, televisão, um monte de coisas por causa da dança. Já perdi muita coisa material por causa da dança, mas eu não acho que perdi, ao contrário, eu só ganhei. E se eu sou quem eu sou é graças a tudo o que fiz, ao meu desapego e ao amor pela dança.


A companhia tem uma sede?


Não tenho sede. A gente trabalha na Monique Vieira Estação de Dança. A Monique é uma pessoa que tem a sensibilidade da importância do trabalho que eu faço profissionalmente pelos bailarinos, e, assim, ela cede a sala sem querer nada em troca. Acho que, dentro do Espírito Santo, são poucas pessoas que têm essa cabeça. A companhia já trabalhou muito tempo também no Espaço da Dança, em Itapoã, que também cedeu a escola pra gente por muitos anos.


Sobre a ocupação de espaços fora os espaços cênicos – partindo do espetáculo “Pérolas Dispersas”, que vocês fizeram no museu da Vale –, queria que você falasse um pouco da relação com o espaço na construção dos espetáculos de dança, qual é sua visão e se existe perspectivas de novas experimentações em outros espaços?


Aconteceu quando eu fui à Vale para fazer uma produção fotográfica com uma bailarina junto ao meu marido, ele é fotógrafo. Quando eu cheguei e vi aquela locomotiva parada pensei “imagina um espetáculo aqui dentro dessa locomotiva...”, e escrevi o projeto, pensando em desenvolvê-lo. Ele foi contemplado. Na época, o Alex Neoral estava em contato comigo e veio para desenvolver essa minha ideia. Ficou lindo! A Vale abraçou as apresentações e todo mundo que viu o espetáculo ficou encantado. Só que eu fiquei limitada ao espaço, porque acontecia todo dentro de uma locomotiva, o espetáculo foi todo montado para aquele lugar. Não é um espetáculo para rua, que eu posso levar para praça, para outro lugar, não, é para uma locomotiva. Onde é que tem uma locomotiva parada? Então é um espetáculo que ficou esse tempo todo parado na esperança de aparecer outra oportunidade de apresentá-lo. Mas é um espetáculo tão lindo que eu resolvi fazer uma adaptação dele para o palco e o apresentamos este mês, no Aldeia SESC, e vamos apresentá-lo no Cena Local em julho. Graças a Deus eu tive coragem, pois eu estava arrasada em pensar que nunca mais iríamos dançá-lo.


Mas foi a primeira vez que vocês experimentaram fora de um espaço cênico?


Não. A Suely Machado esteve aqui em Vitória e montou “Jogos do Cotidiano”, que também é lindo e sensível, feito para parques e praças. Dançamos pouco porque, infelizmente, existe pouca oportunidade de circulação e, então, a companhia fica sempre nesse processo de montagem, montagem, montagem... Todo ano a gente monta espetáculo, mas quase não circula, não dá tempo e seria importante levar esses espetáculos Brasil a fora, pois são lindos!


Fale um pouco sobre os projetos e as ações para a comemoração dos trinta anos.


Já estamos comemorando! Fizemos uma circulação nacional, passamos por oito cidades com “Descortinando”, coreografado por Ingrid Mendonça e dirigido por mim. Participamos do Aldeia SESC e vamos participar do Cena Local. Depois, em outubro, vamos estrear o “PRABHUJEE”, assinado por Mário Nascimento. A intenção é apresentar, durante este ano, espetáculos que a companhia possui, para fazer tipo uma cortina de vertentes, já que cada coreógrafo traz uma coisa, para mostrar a diversidade que existe dentro da companhia, então levaremos essa diversidade para todos os palcos que passarmos este ano.

Estou também com uma proposta de fazer "Companhia de Dança Mítzi Marzzuti Convida", que é um projeto da companhia com todas as escolas de dança do Espírito Santo. As escolas levam os espetáculos que concorrem a prêmios nesses concursos, que são os mais bonitos, que eles montam em festivais, para se apresentar no mesmo dia em que a companhia se apresenta. É um trabalho também de formação de público aqui, em Vitória, porque as pessoas que dançam em escolas muitas vezes só veem espetáculos delas, as mães, os pais assistem às filhas, mas não sabem o que as outras escolas fazem nem quem tem companhia aqui em Vitória.


Qual é sua percepção da dança, depois de tantos anos de experiência?


Existe uma frase “quem dança é mais feliz”. Tem gente que acredita nisso por causa do espírito de felicidade que é despertado pelo fato de você poder viver dessa arte, isso dá uma felicidade. Mas não quer dizer que dança é felicidade. Dança não é felicidade, dança é compromisso, é árduo, é doloroso, é igual a ser mãe. Ser mãe não é essa leveza toda que as pessoas dizem, ser mãe é você perder noite, é dar seu peito, é você não ter tempo para você mesmo, é um monte de coisa, mas é a coisa mais linda do mundo. Dançar é muito parecido com ser mãe. Você fica a vida inteira criando, tentando construir, fazer daquilo um ser bonito, fazer coisas belas. Dá alegria, mas, muitas vezes, não é fácil.


O que falta ao cenário da dança local?


Eu acho que sempre foi tão pouco o que acontece em Vitória, o que circula dentro da cidade, como apoio de dança. Falta mesmo comprometimento não só do Estado (porque eu acho que a grana não tem que partir só dalí), mas me incomoda saber que, em trinta anos, não existiu, na história da dança do Espírito Santo, o apoio de uma empresa particular sem que seja através de leis de incentivo.

Então, dentro do Estado, tem pouco apoio para que a dança aconteça, e fica todo mundo em torno de um prêmio. E, quando uma pessoa recebe, fica aquela coisa... “de novo ela?”. Se tivesse mais verba, com certeza, o número de contemplados seria maior e não teria esse questionamento. Então quem é contemplado não é culpado, e sim a quantidade de verba que se tem para a cultura.





Acompanhe as atividades da Cia de Dança Mítzi Marzzuti em sua página.














terça-feira, 17 de maio de 2016

Marcos Vinicius: A Presença do Mundo em Mim

A GAEU - Galeria Espaço Universitário da Ufes lança amanhã, 18 de maio, às 16 horas, o livro Marcos Vinicius: A Presença do Mundo em Mim.

O livro reúne textos inéditos que abordam o uso do corpo como plataforma para as intervenções e performances realizadas pelo artista Marcus Vinícius, além de material fotográfico e teórico que tratam sobre a carreira do artista capixaba, que teve seu acervo doado à GAEU após sua precoce morte em 2012.



Workshop Corpo Afro

O MUCANE - Museu Capixaba do Negro, recebe o workshop Corpo Afro, idealizado pelo artista Maicom Souza em parceria com o bailarino Jordan Fernandes, com a atriz e cantora Elaine Vieira e com o coletivo Emaranhado.

Corpo Afro é um trabalho que propõe uma interação cultural,visando contribuir na multiplicação do saber sobre a corporeidade negra na dança. O workshop será composto de oficinas de danças afro brasileiras, de jongo e de elaboração de projetos culturais, e serão compostas três turmas com 20 vagas cada.

Os interessados devem entrar em contato pelo email coletivoemaranhado@gmail.com

1ª turma: Dia  27/05 das 13h às 19h e dia 28/05 das 09hs às 13h

2ª turma: Dia 10/06 das 18h às 22h e dia 11/06 das 09h às 17h

3ª turma: Dia 24/06 das 18h às 22h e dia 25/06 das 09h às 17h




sexta-feira, 13 de maio de 2016

3º Dança na Roda

Encontro de linguagens em bate-papo com Rubiane Maia e Carla van den Bergen encerra o Dança na Roda




Com público diversificado, o terceiro e último Dança na Roda aconteceu na tarde de sábado (7/05) e já deixa saudades, ao menos por enquanto! No encontro, as artistas convidadas Carla van den Bergen, do Grupo Z de Teatro, e Rubiane Maia falaram sobre seus trabalhos, suas experiências artísticas, como dialogam com a dança, cada qual a seu modo, e sobre como se colocam politicamente através de seus projetos.

Rubiane Maia contou sobre sua formação em Artes Visuais e sua incursão pelo universo da performance. “A performance sempre me atraiu durante a graduação porque ela não pertence a lugar nenhum e, dentro de outros segmentos, como a dança e o teatro, é aquilo que nem sempre as pessoas conseguem explicar direito o que é. Essa incógnita é um material rico para eu pensar minhas relações com o outro, com o espaço, o tempo, o que compõe meu cotidiano”, explica.

A artista, que começou seu trabalho com intervenções urbanas, seguiu, ao longo dos anos, investigando a si mesma, suas relações com o mundo em diversas perfomances solo, por vezes, cruzando experiências também com instalações, vídeo e fotografia, passando por diversas cidades dentro e fora do Brasil. “De certa maneira, minhas performances começam com uma ideia de auto-sabotagem. De que maneira eu poderia me desarticular numa situação que fosse completamente diferente desse cotidiano que anestesia muito a gente e, ao mesmo tempo, usar elementos que fizessem parte desse cotidiano, da minha história, como elementos presentes e simbólicos para construir a ação, imagem e linguagem”, diz. Formou-se mestre em Psicologia Institucional, e, na cidade de São Paulo, participou, no ano passado, da exposição “Terra Comunal – Marina Abramovic + MAI” com a performance “O Jardim”, na qual cultivou sementes, por dois meses, oito horas por dia, até que se transformassem em plantas.

Rubiane também experimentou seus limites em performances anteriores, a exemplo de uma em que tinha de se movimentar sobre o vidro de um vaso quebrado sem se machucar, enquanto comia rosas, e de outra em que tomava uma dose específica de medicamento de tarja preta a cada meia hora, até chegar a um estado de letargia e memória alterada, completamente diferente do de um corpo sem o ansiolítico. “Essas duas performances criaram um estado corporal, para mim, muito surpreendente. Me levaram a outros trabalhos depois que estão reverberando de maneira cada vez mais profunda, me fazendo pensar conexões entre corpo e tudo ao redor”, aponta a artista.

“O Jardim”, sem dúvida, foi um marco para a artista neste encontro com a dança, em um sentido amplo de movimentação, levando-a ao atual projeto intitulado “Preparação para exercício aéreo”. Ela conta que, quando estava acompanhando o crescimento das plantas (feijões), passou a observar o micro movimento delas, como elas iam se apoiando nas outras, saindo do solo e ganhando o espaço aéreo, quase como em uma coreografia. “Esse exercício de olhar passou a ser também para o meu corpo. É um devir vegetal, que é um tempo completamente diferente do nosso. A planta fazia um micro movimento e eu tentava encontrá-lo no meu corpo e permanecer. Comecei a trabalhar com foco no micro movimento, no espaço aéreo e na inação, de que maneira isso me provocava para um estado de performance-dança, que era dança das plantas”, diz a artista, que também produziu uma série de cadernos cheio de desenhos abstratos sobre essa experiência.

Em “Preparação para exercício aéreo”, que já está em andamento, Rubiane trata da relação do ser humano com o desejo de voar, tanto a partir da figura do animal-pássaro, quanto por meio de máquinas. Em seus estudos, uma frase do filósofo Nietzsche a inspirou: “Quem deseja aprender a voar, deve primeiro aprender a caminhar, a correr, a escalar e a dançar. Não se aprende a voar voando”. A base do projeto, então, passou a ser ir para lugares de elevada altitude, que remetessem ao voo, onde ela buscaria se relacionar com esses espaços e registrar essas experimentações em vídeo.

Desse modo, na primeira etapa do trabalho, a artista fez uma experiência de 29 dias no deserto da Bolívia, deixando se contaminar pelas interferências do ambiente, como o clima, a altitude e a própria paisagem. Nas próximas etapas, Rubiane subirá o Pico da Bandeira e o Monte Roraima, no Brasil. “São dois projetos: preparação para exercício aéreo no deserto e preparação para exercício aéreo na montanha, que estou prestes a executar”, conta.


O corpo na criação compartilhada


Enquanto Rubiane Maia parte, muitas vezes, de um trabalho individual – ainda que seja permeado por sua relação com o outro e com o meio em que se insere –, Carla van den Bergen costuma desenvolver suas criações de forma compartilhada. “Meu processo sempre tem a ver com o diálogo e parece começar sempre com o que gostaríamos de dizer. Esses desejos vão aparecendo até mesmo em conversas entre nós, no nosso desenvolvimento pessoal e coletivo. A partir disso, vem a escolha da linguagem, de como queremos dizer isso que queremos dizer”, aponta Carla, que é bailarina e pertence ao Grupo Z de Teatro, com trabalhos como intérprete, diretora, coreógrafa e de concepção de luz.

O grupo costuma discutir e experimentar propostas que, muitas vezes, surgem dos diretores, Carla van den Bergen e Fernando Marques, mas o trabalho nunca é unidirecional. Ao contrário, como explica Carla, o material que surge em sala é experimentado, volta à direção, retorna aos intérpretes e vai sendo construído nesse fluxo criativo constante e compartilhado.

A artista destaca que o trabalho corporal é muito presente no grupo (que utiliza a classificação de dança-teatro mais por uma necessidade de comunicar aos outros sobre o que fazem) e aposta na diferenciação e particularidade dos corpos para criar. “Não me interessa o que uniformiza os corpos, mas sim o que os diferencia, a expressão artística de cada um deles. Nós podemos executar o mesmo movimento no espaço sem que sejamos iguais”, diz.

Em seu processo de criação, Carla conta que costuma observar quais são as sensações que lhe causa o movimento do outro e experimentar e entender em seu próprio corpo tais movimentos e sensações propostos. Assim, vai compondo o que seria equivalente a cada palavra, colocada antes ou depois de outra, construindo frases de movimento, parágrafos, capítulos, até chegar à obra. “O movimento tem um sentido, que, às vezes, não dá para explicar em palavras, mas que se constrói”, aponta.

A intenção do movimento é primordial para a artista: “Esse desenho no espaço não me preenche se não conseguir dizer algo com isso”. Segundo Carla, tensões, relaxamento, relação com a gravidade e todas as outras possibilidades fazem sentido quando dizem algo, ainda que o caminho para a construção do sentido seja de mão-dupla. “Posso dizer ‘procurem uma qualidade de leveza’, por exemplo, mas, às vezes, posso chegar à leveza por conta do que quero dizer. Os dois caminhos, para mim, são interessantes”, afirma.

Carla aponta que as influências que incidem sobre a movimentação podem se dar a partir de diversas vias, como uma imagem ou uma palavra. Ela explica que as possibilidades são infinitas em termos de criação, mas o que parece se repetir em seu processo criativo é realmente “o olhar sobre o corpo do outro, o diálogo com a criação do outro, as relações com outras formas artísticas, e o impulso que vem do meu corpo”.

Assim como aconteceu no processo do espetáculo “Insone”, Carla diz que, ainda quando parte dela alguma proposição de movimento para o grupo, costuma conduzir experimentações a partir de um desejo corporal, uma intenção, que ganhará a roupagem particular de quem executa. “É como se eu estivesse em cena e dissesse ‘gente, experimenta isso’, e a gente vai construindo junto”.


Dança das linguagens


Conectar seu trabalho à dança ou ao corpo não parecia ser algo óbvio para Rubiane quando iniciou suas pesquisas em performance. A artista conta que suas experiências anteriores com dança, em seu sentido mais formal, foram poucas e de “inadequação”. “O corpo, para mim, sempre foi um lugar muito estranho. A performance, para mim, tinha mais a ver com algo terapêutico, mas é inegável que ela provoca o autoconhecimento do corpo. Também a precariedade de elementos em uma performance faz restar o corpo”, avalia.

Em todo caso, não se preocupa tanto com definições daquilo que faz. Dar nome, também para ela, surge mais como uma necessidade de comunicação, até porque, na prática, seu trabalho passeia e se deixa influenciar por diferentes linguagens, como o vídeo, a fotografia, a literatura e o cinema: “vou buscando deixar essas coisas virem, refinar os conceitos que me interessam, tentar buscar essas imagens internas, de que formas elas surgem, e vou juntando essa bagagem”.

Além disso, Rubiane falou sobre o registro e a documentação da perfomance contemporânea e em como a intervenção de um fotógrafo e as imagens que são produzidas, por exemplo, podem comprometer totalmente o sentido de seu trabalho. “Eu me sentia muito agredida por algumas imagens, então, eu passei de um estágio de não saber que isso acontecia para, de repente, conversar com quem vai fazer isso e, depois, comecei a pensar em que imagem eu queria, e foi quando eu comecei a pensar que eu mesma podia produzir a imagem, além da ação”, diz. A artista destaca que o uso do vídeo em seu trabalho surge também nesse contexto contemporâneo de saturação da imagem. “A gente tem que pensar muito em documentação, em questões éticas, e ética é muito pouco discutida no meio artístico”, acrescenta.


Enraizar para voar: a gravidade em “Insone”


Carla van den Bergen também falou sobre a oficina “Do chão ao voo, da palavra ao corpo”, que aborda o processo de preparação do Grupo Z para o espetáculo “Insone” e que deverá ser ministrada em Vitória no segundo semestre. A artista conta que o trabalho, compartilhado na oficina, está muito relacionado à influência da gravidade sobre o corpo, quando ele resiste, quando ele se entrega.

Nesse processo, a escolha de um colchão como espaço cênico interferiu totalmente na movimentação dos intérpretes, redirecionando a criação. “Há uma série de saltos, mas não é só um estudo de planos, é como a gente se relaciona com a gravidade. Só entendendo o enraizamento, eu posso entender o salto. É o entendimento de que, sem o chão, a gente não voa”, frisa Carla, concordando com Rubiane quando ressalta o mesmo em sua pesquisa em “Preparação para exercício aéreo”.


A arte como posicionamento político


As convidadas também falaram sobre seus ofícios dentro do atual cenário político e como utilizam a arte para se colocarem politicamente. “Eu acredito muito na ideia de micropolítica, de disseminação e contágio, que começa a partir de momentos como este aqui, em que a gente consegue compartilhar as nossas descobertas e inquietações, e que a gente precisa fortalecer”, aponta Rubiane, que também pensa que palavras como permanência e sobrevivência sejam importantes para quem faz arte.

Carla reforça que o trabalho do artista é de formiguinha, que, devagar, pode ir contaminando o público, e que o entendimento de que o outro não é igual a você, de que um corpo é diferente do outro, de que cada pessoa é única, é um bom começo para o respeito à diferença, tão necessário para dias melhores. “Isso já acontece com o nosso processo interno e, se for levado para outras camadas, o resultado seria bom, mas é um trabalho micro. Ao mesmo tempo, é importante o que a gente diz em nosso trabalho, a fala do respeito a cada um, assim como as questões de gênero, mulher, indígena, dos que estão à margem, entre outros temas”, diz.





Rubiane Maia fará uma mostra em vídeo do processo atual, “Preparação para exercício aéreo”, seguida de bate-papo, no dia 30 de maio, no Cemuni V (Ufes), em parceria com o BAILE, às 18h. Na sequência, nos dias 31 e 1º de junho, ministrará uma oficina de performance, das 14h às 18h. Os interessados na oficina deverão enviar para o e-mail rubiane.art@gmail.com um currículo resumido e dizer por que têm interesse em participar.


O Dança na Roda foi um evento gratuito, promovido pelo Portal Dança no ES, que reuniu público e artistas locais para compartilharem suas experiências criativas. As rodas aconteceram no foyer do Teatro Carlos Gomes e estiveram abertas a todos interessados pelo tema.
O Portal Dança no ES é um projeto contemplado pelo edital Setorial de Artes Cênicas/Dança 2015 da Secult ES / Funcultura. 



Oficina + Mostra de processo com Rubiane Maia

A artista Rubiane Maia convida para a mostra de processo da pesquisa Preparação para Exercício Aéreo no dia 30 de maio, que acontecerá no Cemuni 5, Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo. Na ocasião Rubiane mostrará os vídeos que vem desenvolvendo ao longo do processo e seguirá com um bate-papo sobre os trabalhos.

Nos dias 31 de maio e 1º de junho a artista promoverá uma oficina de performance, também na UFES, aberta aos interessados que deverão se inscrever enviando uma mini bio e carta de interesse para rubianemaia.art@gmail.com



SERVIÇO
Mostra de Processo - Preparação para Exercício Aéreo, de Rubiane Maia 
Convidado: Manuel Vason (IT/UK)

30 de maio, às 18h - Mostra de vídeos
30 de maio às 20h - Bate papo
Local: Sala 1A, Cemuni 5, UFES, Vitória, ES.

31 de maio e 1º de junho, de 14h às 18h - Oficina de performance
Local: CEPEC, Cemuni 1, UFES, Vitória, ES.
Inscrições pelo email rubianemaia.art@gmail.com

Estreia Negraô

A Cia Negraô estreia seu novo espetáculo, Negros de Todas as Cores nos dias 27 e 28 de maio no Teatro Carlos Gomes, com entrada gratuita
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O espetáculo, que foi montado com patrocinío da Secult ES/Funcultura, tem direção coreográfica de Giovana Gonzaga e passeia por diversas manifestações culturais da periferia e contou com colaboração de diferentes artistas em seu processo de montagem.




SERVIÇO
Negros de Todas as Cores - Cia Negraô
Dia 27 de maio às 20h
Dia 28 de maio às 18h e às 20h
No Teatro Carlos Gomes (Praça Costa Pereira, s/n, Centro de Vitória)
Entrada Gratuita (os ingressos estarão disponíveis na bilheteria do teatro a partir do dia 24 de maio)

terça-feira, 10 de maio de 2016

Aldeia Sesc 2016

Começa nesta quinta, dia 12 de maio, o Aldeia Sesc Ilha do Mel. O evento que é já é tradicional na agenda cultural capixaba contará com espetáculos locais de dança e teatro, de convidados do projeto Palco Giratório, performances, reflexões cênicas, oficinas, cinema e música.

Ser(Tão) do Coletivo Emaranhado é uma das atrações da mostra
Serão 10 dias de atividades culturais que ocuparão os dois teatro do Centro Cultural Sesc Glória e as ruas do Centro de Vitória. As atividades que ocorrem na rua, assim como a mostra de cinema e as reflexões cênicas são gratuitas e as apresentações nos teatros tem preços populares que variam entre R$4 e R$2.

O Balé da Ilha Cia de Dança apresenta Teoria Geral da Fossa

Os interessados para além da apreciação poderão conhecer mais um pouco dos trabalhos apresentados através das reflexões cênicas que ocorrem sempre na tarde do dia seguinte às apresentações. Haverá também a oportunidade de participar de uma performance da Repertório Artes Cênicas e Cia.

A Repertório Artes Cênicas convida à todos para participarem da performance


Confira os espetáculos de dança e performance que farão parte da mostra:

13 de maio (sexta)
19h - Kafka de Fora pra Dentro, da Cia do Outro (Teatro Virgínia Tamanini)
20h30 - Formas, da Cia Reverence de Dança (Teatro Glória)

15 de maio (domingo)
19h - Bálsamo, da Kerigma Cia de Dança (Teatro Virgínia Tamanini)
20h30 - Fragmentos, da Cia de Dança Mitzi Mazzuti (Teatro Glória)

16 de maio (quinta)
15h - Experimentos Gramíneos, de Maicyra Leão (Praça Costa Pereira)

17 de maio (terça)
17h - Mulheres em Fuga, da Repertório Artes Cênicas e Cia (Sala de Dança do Sesc e Catedral de Vitória)
Os interessados em participar da performance Mulheres em Fuga devem se inscrever até 16/05 pelo e-mail artescenicas-es@es.sesc.com.br 

19 de maio (quinta)
20h30 - Teoria Geral da Fossa, do Balé da Ilha Cia de Dança (Teatro Virgínia Tamanini)

20 de maio (sexta)
19h - Ser(Tão), do Coletivo Emaranhado (Praça Costa Pereira)

21 de maio (sábado)
20h30 - Crash, da Cia de Teatro Urgente (Teatro Virgínia Tamanini)



Confira a programação completa nas páginas do Sesc ES
Evento no Facebook - https://www.facebook.com/events/557804641057487/permalink/560542687450349/

Fan Page - https://www.facebook.com/Centro-Cultural-Sesc-Gl%C3%B3ria-580978015365210/?fref=ts

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Estreia Epopeia de Gilgamesh

Dias 19 e 20 de maio acontece a temporada de estreia do espetáculo de teatro e dança Epopeia de Gilgamesh, concebido pelo bailarino Paulo Fernandes.

O espetáculo é baseado na obra homônima de autoria desconhecida e datada de 2.000 a.C, um texto épico mesopotâmico que relata a saga do Rei Gilgamesh, que reinou e abandonou a cidade de Uruk, na busca da imortalidade.

A obra reflete questões ainda pertinentes na contemporaneidade, revendo valores humanos e culturais que evidenciam uma ressignificação das memórias ancestrais, sob as condições dos conflitos atuais.

O espetáculo, que foi montado com recursos do BANESTES/SA através da lei de incentivo Rubem Braga da PMV-SEMC e em parceria com o Sabor Natura, terá uma segunda temporada no mês de junho.


Ficha Técnica:
Direção / Criação / Bailarino: Paulo Fernandes
Interpretes: Diego Rodrigues, Isleide Couto 
Figurante: Gleydson Silva
Aúdio: Franco Auriemma 
Designer: Ariel Lessa
Produção Executiva: Thaynã Targa, Paulo Fernandes
Iluminação: Diego Souza
Contra - regra: Luciano Liszt
Diretor de Palco: Luiz Claúdio Siqueira
Filmagem: Juliana Saiter, Gabriela Lopes 
Fotografia: Xico Barreiros
Assistente de Produção: Francisco Campos
Assistente de Palco: Alcides Luiz




SERVIÇO
Espetáculo de dança e teatro "Epopeia de Gilgamesh"
Dias 19 e 20 de maio às 19h30 / 03 e 04 de junho às 10h30 e 19h30
No Theatro Carlos Gomes (Praça Costa Pereira, s/n, Centro, Vitória, ES) 
Ingressos: R$ 10,00 inteira / R$ 5,00 meia 

terça-feira, 3 de maio de 2016

2° Dança na Roda

Encontro reuniu Afro e Danças Urbanas em bate-papo protagonizado por Giovana Gonzaga e Yuriê Perazzini




No último dia 23, sábado, o foyer do Teatro Carlos Gomes se transformou em palco para um rico debate sobre dança, atitude, cultura negra e processos de formação e criação. O segundo Dança na Roda contou com a participação das artistas e professoras Giovana Gonzaga, da Cia NegraÔ, e Yuriê Perazzini, das Danças Urbanas, além de um público diversificado, entre dançarinos, estudantes, pesquisadores e interessados no tema. O encontro fez parte do “Processos 012”, evento realizado por projetos contemplados pelo edital de Artes Cênicas da Secult, e deu continuidade às rodas de bate-papo propostas pelo Portal Dança no ES. A terceira e última edição do Dança na Roda acontecerá no dia 7 de maio, às 15h, no mesmo local, com a presença da performer Rubiane Maia e da bailarina e atriz Carla Van Den Bergen, do Grupo Z de Teatro.


Atualmente na função de direção coreográfica da Cia NegraÔ, Giovana falou sobre seu processo de amadurecimento, que a levou de intérprete para coreógrafa do grupo. Seguindo a referência de trabalho do coreógrafo Gil Mendes, que esteve à frente do grupo por muitos anos, Giovana aposta no trabalho colaborativo. “O NegraÔ é minha essência, minha base de dança, minha escola. Dentro do NegraÔ, fui descobrir a essência do criar. Gil Mendes sempre nos deu essa oportunidade, ele nunca faz um trabalho sozinho”, ressalta.

A artista participou de vários processos criativos, mas considera sua profissionalização, de fato, a partir do NegraÔ. Como coreógrafa do grupo, está em seu segundo trabalho, sendo o primeiro “O Congado”, que, sobre uma base contemporânea, trouxe imagens e figuras do Congo que são pouco vistas e conhecidas. Agora, o grupo encara uma nova etapa em sua trajetória, assim como a própria Giovana. “É um processo novo na minha vida. Eu sempre fui intérprete e, hoje, estou em um processo de também pensar no que significa a dança para mim. A dança realmente é minha vida”, diz.

Com “Negros de todas as cores”, título do novo trabalho, a proposta é buscar outras referências em ritmos e estilos que dialoguem intimamente com a cultura afro, sem perder suas raízes, o que tem, inclusive, colocado o grupo em contato com a própria Yuriê Perazzini na sala de ensaio e pesquisa. “Quando a gente vive a cultura afro, a gente tem tantos caminhos para seguir... Eu acho que é essa busca que estou trazendo para o NegraÔ”, sublinha Giovana.

A diversidade também permeia a concepção de técnica que a coreógrafa utiliza. “Acho a técnica necessária, funcional, mas existem muitos corpos. Cansei desse mundinho do padrão corporal, acho que cada corpo tem um processo de criar”, aponta. Do mesmo modo, investe em novas leituras em seu projeto paralelo, a Cia de Dança Alfazema, na qual trabalha com a dança afro buscando suavidade e leveza, sem o peso e o impacto característicos de sua versão tradicional.


Na batida das ruas


Padrão também foi algo em que Yuriê Perazzini nunca acreditou. Desde muito cedo, a artista começou a buscar o que a movia – literalmente. Aos cinco anos, entrou para o ballet, onde não ficou mais que duas semanas. “Eu era muito agitada! Fui para o jazz e fiquei alguns anos. Depois de um tempo, também não conseguia mais me encaixar nele, eu fazia uns movimentos muito diferentes”, conta.

Já adolescente, Yuriê entrou para o Vitória Street Dance, grupo dirigido por Lalau Martins (a quem Yuriê rendeu homenagens e agradecimento durante sua fala), e iniciou sua carreira nas danças urbanas. A partir daí, acumulou experiências, colecionou referências nacionais e internacionais na área, conheceu pessoas e foi para o mundo. Com Zênia Cáo, formou uma dupla e viajou em busca de mais conhecimento. Yuriê fez cursos em São Paulo, pesquisou na Jamaica e na África, entre outros lugares, e encontrou um universo muito maior do que esperava. “Conheci uma galera em São Paulo, fizemos um intensivo lá. Tivemos que começar praticamente do zero, não sabíamos fundamentos, nomes dos tipos de dança”, diz.

A cada descoberta de um novo estilo de dança urbana, Yuriê conta que chorava, uma vez que descobria, aos poucos, a si mesma. Com o tempo e sua constante busca por saber mais, a artista se pôs em contato com diversas vertentes, a exemplo do ragga jam, que, como ela explica, é uma fusão de danças jamaicanas com hip hop. “Fiquei dois anos na equipe Ragga Jam Brasil, tinha que ir para São Paulo de dois em dois meses”, lembra.

Diante das dificuldades que encontrava e do desejo de investir no próprio Estado, Yuriê deu início à UDES (União de Dançarinos do Espírito Santo) e, juntamente com parceiros, a exemplo de Priscila Foquinha (in memorian), tocou o projeto adiante, com encontros mensais, inicialmente sem nenhum apoio financeiro. Os Encontros de Danças Urbanas, promovidos pela UDES, existem há sete anos e acontecem até hoje, todo terceiro sábado do mês.

Além disso, a artista falou do lançamento recente de um novo projeto, o Casu (Casa Urbana), que pretende dedicar aulas específicas para cada um dos estilos de dança urbana, que, como ela explica, são vários. “É começar a entender as especificidades e a riqueza que existem nas danças urbanas. Eu tenho paixão por essa cultura e é fundamental esse olhar de que cada tipo de dança tem sua importância”, destaca.

Yuriê sempre foi plural. Com formação também na capoeira e no curso de graduação em Educação Física, ela experimentou diversas linguagens de dança para compor o que hoje é seu trabalho. Foi pioneira do flash mob no Estado, tem consciência da sua responsabilidade social como educadora, difusora e fundadora da cultura das danças urbanas no Estado, e se coloca no lugar do underground (no sentido do não acadêmico), mesmo sabendo que ocupar espaços é preciso. “Pego firme na questão de que tem que ir para o teatro, sim; tem que ir para o lugar da galera rica, sim; tem que trazer a galera rica junto com os pobres, sim”, afirma.



Processos e encontros


O encontro das duas artistas da dança tem sido produtivo para além da Roda. Giovana contou que Yuriê foi uma parte importante no novo processo de pesquisa e criação do NegraÔ, que deverá abordar também as danças urbanas, funk, kuduro, entre outros ritmos, sem perder o tom da dança afro, característica principal do grupo.

“Não deixamos nossa essência, mas vejo várias vertentes na cultura afro, vindas do gueto, da comunidade. Estou muito feliz de ver o NegraÔ poder subir ao palco e representar guetos. A galera está trabalhando com o passinho. Quem já assistiu ao passinho no palco? É pouco!”, observa Giovana. “Negros de todas as cores” surgiu de uma das bailarinas do grupo, que sonhou com o título, e apenas isso. A partir daí, iniciou-se todo o processo de criação.

Giovana explicou que, tradicionalmente, a dança afro tem suas bases nas matrizes africanas, com dança dos orixás, samba reggae, afro contemporâneo, além de possuir uma energia muito forte do dançarino com o chão. Muitos movimentos surgem, por exemplo, inspirados nas atividades cotidianas de negros escravizados, como o trabalho de lavar, socar, assim como sua relação com as divindades. Cria-se, portanto, uma célula coreográfica, mas cada indivíduo, de acordo com seu repertório, encontra sua maneira de se movimentar.

“Adoro o corpo cru, ele tem muito o que mostrar, não gosto tanto do vício. Por isso, estamos trazendo uma nova roupagem. Cada corpo vai em busca daquilo que entende”, pontua Giovana, que, como profissional, gosta de ver a transformação dos corpos ao longo do trabalho. As mesclas que fazem parte do novo processo deverão marcar, inclusive, a própria passagem do grupo. “A gente quer ousar tanto em movimento quanto em história. O NegraÔ tem esse direito, não existem limitações. A gente vai experimentar porque faz parte da nossa cultura”, acrescenta a coreógrafa.

Sem sair do universo de uma cultura de legítima influência negra, o processo criativo de Yuriê nas danças urbanas também conta com uma mistura de linguagens. Ela explica que cada ritmo tem sua marcação, suas bases de movimento, mas, quando cria, costuma partir de um ponto de vista pessoal, que inclui até seu histórico com a capoeira. Influências de berimbau, atabaques, batuques, batimentos cardíacos, traços gays extraídos de revista de top model, tudo isso já foi elemento de criação para a artista.




O Dança na Roda é um evento gratuito, promovido pelo Portal Dança no ES, que pretende reunir público e artistas locais para compartilharem suas experiências criativas. As rodas acontecem no foyer do Teatro Carlos Gomes, das 15h às 18h, e é aberta a todos interessados pelo tema. Até a próxima!





segunda-feira, 2 de maio de 2016

3º Dança na Roda dia 7 de maio

No dia 7 de maio, sábado, acontece a 3ª e última roda de conversa sobre processos de criação em dança do Dança no ES. As convidadas da vez são Carla van den Bergen e Rubiane Maia.

Carla van den Bergen é diretora, iluminadora, coreógrafa e bailarina. Atuou em companhias como Mitzi Marzzuti, Duo Cia de Dança e Quorum Cia de Dança. Atualmente integra o Grupo Z, que fundou junto a Fernando Marques, e tem em seu currículo espetáculos de dança teatro como Incessantemente, Quatro Intérpretes para Cinco Peças e Insone, tendo participado de importantes eventos nacionais como a circulação do Palco Giratório e circulação através do prêmio O Boticário na Dança.

Rubiane Maia é uma artista que interessa-se especialmente pelas linguagens relacionadas ao corpo, e trabalha no cruzamento entre a performance, a instalação e o vídeo, além de flertar com o cinema e a literatura. Nos últimos anos participou de diversos encontros, festivais e residências no Brasil, Argentina, Chile, França, Reino Unido, Espanha, Itália, Portugal e Irlanda. E também da 9th Kaunas Biennial UNITEXT na Lituânia. 
Em 2015 participou das exposições ‘Modos de Usar’ no Museu de Arte do Espírito Santo – MAES, do Workshop 'Cleaning the House' (c/ Marina Abramovich), e da Exposição Terra Comunal – Marina 
Abramovic + MAI, no SESC Pompéia, São Paulo. Recentemente, produziu o curta-metragem EVO, uma ficção com roteiro inspirado em suas investigações sobre sonhos e memória.