terça-feira, 31 de agosto de 2021

HISTÓRIAS DE DANÇA E LUTA A PARTIR DO OLHAR DE ARIANE MEIRELES

 

Mulher preta, capixaba, nascida em São Torquato, na periferia de Vila Velha, umbandista, lésbica, ativista do movimento de lésbicas Santa Sapataria, professora de Educação Física e de várias temáticas relacionadas à educação das relações raciais, à questão de gênero, de diversidade social. Assim se apresenta Ariane Meireles, que acredita que se tornou quem é por causa da dança. “Até conhecer a dança, eu não me identificava com nenhuma dessas características que eu descrevi agora. Antes da dança, eu era uma menina preta com muita vergonha do pertencimento racial, uma menina que queria muito ser branca, ter cabelos lisos, que queria ser aceita e querida. A partir da dança eu comecei a traçar essas identidades que hoje me conformam”, acrescenta. Entre as inúmeras contribuições que Ariane trouxe para a dança no Espírito Santo, está a formação e o desenvolvimento do grupo de dança Afro-Brasileira Cênica que completa 30 anos de atividade e luta neste ano, o NegraÔ – do qual é uma das fundadoras –, e que sempre associou a dança à pesquisa, ao bate-papo em roda e ao ensino. Confira a seguir a entrevista que a dançarina concedeu ao Portal Dança no ES!


 

P: Quais são suas primeiras memórias em relação à dança?

 

Por falar em memória, esse é um valor civilizatório afro-brasileiro muito importante, e a minha memória falha muito! Mas, como a dança para mim é tão vital, acho que memória de dança está mais presente do que outras coisas.

Eu não tenho noção de quando foi que eu comecei a pensar que eu poderia dançar na vida. Eu era uma criança muito tímida, envergonhada, não tinha coragem para nada, muito menos achava que tinha talento para alguma coisa; e isso por causa do racismo – tenho que frisar bastante. O racismo da escola, da rua, da sociedade em geral. Só tinha o acolhimento e o encorajamento em casa (e isso é muita coisa!). Então minha mãe, dona Adélia Celestino Meireles, minha ancestral hoje, desde que eu era criança, me perguntava o que eu queria fazer artisticamente, apesar de ela ser uma mulher de periferia, pobre, sem estudos. Ela tinha uma mentalidade, uma condição na vida, muito vanguardista para a época dela e para o tipo de mulher que ela era!

Aí eu tentei alguma coisa quando era criança, inclusive música, tocar instrumento, não dava nada certo. Eu tinha cantado em igreja evangélica, na época, e quando eu olhava o pastor falando naquele espaço que parecia um palco, eu só via dança, eu tenho essa memória hoje, mas eu não sabia que eu poderia estar naquele “palco” também; então acho que foi na adolescência que eu tive coragem de começar a pensar nisso com mais seriedade.

E foi em uma situação bacana, de um amigo meu, pianista, Sérgio Lopes, um rapaz branco que tinha 14 anos, e eu também tinha. Ele estava sendo pianista da academia de dança da dona Lenira Borges, na Praia do Canto. Ele pobre, eu também, mas como ele era da igreja, tinha estudado instrumentos musicais e, quando ele chegou lá, viu um professor dando aula de dança com tambores, ele achou aquilo lindo e me disse para eu ir lá na escola. Eu fui com ele, com muita vergonha. E eu vi a dança afro pela primeira vez na vida, com o professor Raimundo Netto. Aquilo me impressionou tanto, que eu nunca mais parei de dançar.

 

P: Como foi o início da sua trajetória na dança afro-brasileira? Como isso foi ganhando importância na sua vida?

 

Eu comecei a dançar com Raimundo Netto, ele gostava de me ver dançando, apesar da minha vergonha, porque nunca gostei de ficar à frente de nada, e o Raimundo fazia muita questão de me projetar. Ele trabalhava com Mercedes Baptista. Eu não a conhecia, mas eu estava com o Raimundo, que estava com ela em sua vida artística. Ele achava que eu tinha um talento muito especial, e nós montamos um grupo de dança afro nessa ocasião da escola Lenira Borges; havia eu mais uma bailarina preta, Merliane de Almeida, que fazia ballet clássico, esse meu amigo pianista, Sérgio Lopes, que havia sido convidado por ele, e um outro rapaz chamado Marcos Colodetti. E formamos um grupo chamado Axé de Obá, para mim, o primeiro grupo de dança afro daqui do estado, porque não conheço outro antes disso, não, nos anos 80.

E o Raimundo nos levou para conhecer a dona Mercedes Baptista, no Rio de Janeiro, e eu tive o privilégio de ter muita aula com ela por causa dessas viagens. E nessas aulas com ela, eu nem sabia a dimensão daquilo, o que significava estar diante de uma mulher tão poderosa, mas eu percebia que ela era muito especial mesmo, porque era rigorosa, linda, exuberante, tudo de bom, e já era uma senhora, acho que ela tinha a idade que eu tenho hoje, 55 anos (eu também sou uma senhora, mas hoje eu não acho... [risos]). E quando a gente começou a estudar com ela, a falar de Orixás e tudo, eu olhava para ela e pensava “essa mulher se parece com um Orixá”. Eu a via como algo além da normalidade, além do que é natural para mim, porque era muito poder numa mulher só.

Nós fizemos muitas apresentações no Rio de Janeiro, em clubes, em escolas, em vários lugares, e aqui também, em Vitória. Esse grupo era formado para fazer apresentação cultural, não era um grupo de pesquisa ou de estudos, era um grupo de dança para se apresentar, isso me inquietou ao longo do tempo, mas no começo era fascinante, porque a gente ganhava um dinheirinho também.

 

P: Você começou a ver isso como uma espécie de profissionalização?

 

Sim, mas ao mesmo tempo me incomodava estar em um grupo que tinha a ocupação de apresentação. Eu queria mais daquilo, mas não sabia bem o que queria, porque, como eu falei, foi a dança que me tirou desse lugar de menina “menor”, daquela que não tem orgulho do pertencimento, então eu achava que a dança deveria também fazer isso com outras pessoas, como fez comigo; e como a gente só tinha o foco em apresentações culturais para receber cachê, eu comecei a achar que isso não era suficiente para mim.

Eu nunca tive um olhar muito empreendedor, no sentido de receber dinheiro com a dança, eu sempre achei que a dança poderia ser algo paralelo à minha profissão, que eu ia escolher ainda qual seria. Talvez a minha mãe me estimulasse a pensar assim porque achava que artista no Brasil não ganhava dinheiro, e ela dizia “você tem que ter a dança na sua vida, mas tem que ter uma profissão”, e esse “mas tem que ter uma profissão” entrou para mim como se a dança não pudesse ser uma profissão.

 

P: Em que momento a dança passa a se conectar mais profundamente com o debate racial na sua trajetória?

 

Com essa inquietação, quando eu percebi que esse grupo estava começando a me deixar menos satisfeita com o que eu gostaria de fazer, ainda que eu não soubesse bem o que eu gostaria de fazer, eu tive, nessa oportunidade, uma aproximação com o movimento negro local, com o Centro de Estudos da Cultura Negra – CECUN, que tem como coordenador o Luiz Carlos Oliveira. Então eu entrei ali novinha, com 16, 17 anos, já dançava no grupo Axé de Obá, e eu comecei a conhecer pessoas que tinham a questão racial como meta na vida – foi a primeira vez que eu vi um homem preto como professor da universidade, o Cleber Maciel. Ele me inspirou e inspirou muitas pessoas da nossa geração, era professor de História da Ufes.

Quando eu me aproximei, ele falou “você pode fazer da dança afro sua militância política”, era tudo o que eu queria na minha vida! Então, quando ele disse isso, a gente foi juntando uma pessoa aqui, outra ali, juntamos um bom grupo e fizemos um segundo grupo, o Abi Dudu. Nós, o coletivo que se fez ali, escolhemos o nome para esse grupo, que tem o sentido de “nascer negro”. Isso porque o professor Cleber colocou nas nossas mãos um dicionário de Yorubá – a gente nem sabia o que era Yorubá, não tinha internet nessa época –, ele colocou nas nossas mãos muitos livros e nos ensinou a fazer pesquisa, nós formamos o primeiro grupo de dança e pesquisa sobre a cultura afro-brasileira, que foi o Abi Dudu; esse grupo durou alguns anos.

A gente tinha, então, as duas pegadas: a pegada de fazer apresentações culturais em teatro, em comunidades, e a pegada de estudar. Nosso coletivo cresceu muito, porque à medida que a gente dava aula, sempre gratuita, para toda a comunidade, a gente recebia mais gente aderindo ao grupo, até ficar um grupo grandão, chegamos a ter 30 pessoas uma vez no grupo. Acho que tinha essa coisa da liderança, eu curtia isso, nós fazíamos muitas coisas com o coletivo, no sentido de contribuir, por exemplo, com quem não tinha o dinheiro da passagem para poder sair de casa e ir até o centro da cidade para ensaiar; e ensaiar onde, né?

Nós conseguimos vários espaços para ensaiar gratuitamente; nós não tínhamos, por exemplo, a Fafi funcionando nem outros espaços... Existia um sindicato na Praça Oito, o pessoal dava a chave para a gente ensaiar lá à noite, a gente arredava as mesas e cadeiras e dançava, dançava, dançava... depois largava tudo arrumadinho de novo para eles trabalharem no outro dia. A gente começou a conhecer muitas pessoas do movimento negro que nos levavam para outros espaços para ensaiar, e foi aí que nós fomos para o Museu Capixaba do Negro, quando era um barracão, praticamente. Aí já com o NegraÔ (que surgiu um ano após a dissolução do Abi Dudu).

 

P: Vocês chegaram a transformar a importância do espaço do Mucane, né?

 

Sim, a gente decidiu ocupar o Museu Capixaba do Negro, porque essa era uma determinação do movimento negro local, ocupar o máximo possível para que a gente tivesse hoje o que nós temos, que é o Museu, porque dependia de a gente provar que tinha uma utilidade para nós e que tinha uma importância na nossa história. Então todos os sábados e algumas vezes durante a semana a gente ia para lá, limpava tudo, cada um levava da sua própria casa um balde, uma vassoura, um pano de chão, a gente limpava, fazia uma faxina gigante para receber as pessoas e às vezes havia 100 pessoas numa sala fazendo aula de dança, a gente se revezava inclusive nessas aulas de dança.

E era muito bacana que, apesar de não ter internet, a gente tinha amigos que viajavam para Bahia, Rio de Janeiro e compravam discos e davam para a gente, porque eles tinham acesso ao Olodum, ao Ilê Aiyê, a pessoas como Naná Vasconcelos, e traziam os discos delas. Nas nossas aulas, havia pessoas que tinham alto poder aquisitivo, muitas médicas, advogadas, e também as garis, as trabalhadoras domésticas, as donas de casa com suas crianças, então esse povo todo frequentava junto. Só que não existia nem um dia de dança sem uma roda de conversa sobre a questão racial, isso para nós era fundamental, uma coisa não estava descolada da outra nunca, nem no Abi Dudu, nem no NegraÔ.

 

P: Como surgiu o NegraÔ?

 

Estávamos na sala de dança da Ufes, do curso de Educação Física, eu, Renato Santos, Ana Cecília Macedo e Walter Lima. Nós quatro éramos estudantes de Educação Física da Ufes, nós quatro pretos, nos encontrávamos sempre; isso em 1991, e o Renato, sempre muito ativo, muito atento às coisas da sociedade, da cidade, recebeu um convite para fazer uma coreografia para um evento, e nós concordamos com o Renato e fomos fazer a tal coreografia e dançar. Só que, para isso, a gente teve que apresentar alguma coisa como grupo, e aí vimos que tinham dois homens e duas mulheres pretas, pensamos em Pretoá, Pretaô, aí ficou NegraÔ, porque as mulheres sempre vêm na frente mandando na coisa toda. Então Negra é disso, e Ô é dos homens, do masculino. NegraÔ vem daí, dessa atividade que a gente pensou ser uma atividade única de ir lá dançar, ganhar o cachê e tchau, mas não, está aí até hoje, e o Renato é o grande mentor dessa história inicial.

 

P: Como você percebe, olhando daquela época para hoje, o cenário da dança no estado, como vocês foram responsáveis por abrir portas e ir modificando inclusive a estrutura de ensino da dança?

 

O NegraÔ, quando ele começa a fazer alguma história, recebe também um pouco de resistência de quem considerava que o que a gente fazia não era dança contemporânea, que aquilo ali era folclore, era qualquer coisa menos digna de ser considerada dança, e muitas pessoas brancas da dança capixaba, do nosso cenário, foram muito cruéis com o NegraÔ durante muito tempo. Eu lembro, acho que foi em 95, que nós nos inscrevemos várias vezes para poder fazer prova no sindicato dos artistas para profissionalização da dança afro, reivindicávamos isso com muita frequência e éramos tratados como qualquer coisa, menos como dançarinos. Eu tenho essa memória e um pouquinho de mágoa disso, mas nada que me afete a saúde.

Eu já era uma profissional da dança afro, porque, quando eu era adolescente, em uma ida ao Rio de Janeiro, o Raimundo Netto nos levou para fazer uma prova de profissionalização, então eu me tornei profissional com a professora Mercedes Baptista me dando a prova, ela que era a professora que aplicou a prova, muito rigorosa, éramos nós 4 e só eu consegui a aprovação, então eu sou filiada ao Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro porque foi lá que eu fiz a prova, aqui não tinha. Nós tentávamos aqui e era um fracasso.

E eu lembro que uma vez nos inscrevemos num concurso de dança contemporânea no México, o NegraÔ se inscreveu e fomos selecionados, e aí foi tipo... “olha, galerazinha racista de Vitória, presta atenção que o exterior já está reconhecendo a gente como grupo de dança contemporânea, mas aqui não”; não ganhamos nada no festival, mas ganhamos uma experiência linda de ter ido para lá. Foi muito importante para nós, até para nos firmamos como grupo de dança mesmo.

Então o fato de a gente ter passado por essas humilhações todas com o sindicato dos artistas, especialmente o pessoal da dança, o povo branco da dança capixaba, nos levou a ter mais amplitude das nossas ações, porque o grupo estava querendo se tornar profissional. Não sei qual foi o ano que teve a primeira prova de dança afro para profissionalização, mas aconteceu.

Eu sei que o NegraÔ tem uma história de mudar paradigmas aqui na nossa cidade, isso é um orgulho muito grande; de uma coisa de início tão despretensioso, a gente conseguiu abrir caminhos e formar pessoas que são fenomenais, e eu digo isso com a boca bem cheia, porque conhecendo grupos de dança de outros países, de outros estados, eu reconheço a qualidade de pessoas que estão no NegraÔ hoje e das que já estiveram, que estão fazendo história em muitos lugares até do mundo. Para mim é uma honra, um prazer muito grande.

Depois de um certo tempo, eu decidi que eu não queria mais dançar em palco... eu já tinha feito muito isso, era como se eu estivesse olhando um pouquinho de longe e pensasse “missão cumprida! Deixa a galera tocar o barco”. Isso é uma coisa muito específica da minha personalidade, eu acho. Assim como no movimento de lésbicas também, eu levei, levei, levei... quando vi que tinha a meninada chegando, eu falei “opa, bora recuar, ler uns livros dentro de casa, ver televisão, porque agora tem uma galera que faz”.

 

P: Você vai abrindo o caminho e depois deixa a galera continuar...

 

É, e fizeram isso comigo também! Pavimentaram o caminho para eu entrar. A dona Mercedes veio, a minha mãe também, aí eu acho que faço o mesmo papel, e as pessoas vão brotando.

Aliás, eu falei muito do Raimundo Netto e do Cleber Maciel, mas não posso deixar de falar do Gil Mendes. O Gil é o cara que ensinou para mim tudo o que eu sei de dança. Obviamente que eu aprendi muito com a Mercedes Baptista, com o Raimundo Netto, e o Gil foi quem me consolidou enquanto profissional, enquanto professora e bailarina de dança afro; é o cara que me ensinou com toda delicadeza, doçura, profissionalismo o que é dançar profissionalmente. Então, mesmo que eu tenha recebido um documento de profissional lá pelos meus 17 anos, porque eu tinha uma boa performance, eu não sabia o que fazer com aquilo, e o Gil me ensinou a saber o que fazer com aquilo, a saber não só a dançar lindamente nos palcos, mas saber transmitir isso de forma muito profissional. Gil, então, para mim, é o cara que é o máximo dos máximos, eu o reverencio muito e tenho ele como meu grande mestre, junto com essas duas pessoas que eu falei também aqui.

 

P: E o grupo Griôs da Dança, como surgiu?

 

É o mesmo movimento desde sempre. Assim como eu me afastei do NegraÔ porque achava que estava na hora de a galera tomar a frente, eu comecei a achar “já deu pra mim de dança”. E eu tenho uma amiga que me falou assim “você nunca deve parar de dançar, porque a dança é a sua vida”; eu disse que estava muito cansada, a dança também é muito murro em ponta de faca, e ela disse “tá bom, mas que seja na sua sala, na sua casa, dance!”. E eu tenho isso muito gravado na memória, porque todas as vezes que eu pensei “já deu pra mim de dança” eu precisei dançar para continuar respirando, a verdade é essa! Então a dança, nesse sentido, me faz um bem danado.

E eu parei com o NegraÔ por um tempo, fiquei afastada dançando pra mim, e chegou num momento dos meus 40 e poucos anos que falei “eu quero dançar de novo”; e aí convidei uma amiga, a Miriam Cardoso, e uma outra, Leomar Basolé. E eu disse “meninas, bora dançar, sem a intenção de fazer nada grandioso, é botar o nosso corpo se jogando um pouquinho nos ritmos e tal”, e também, como é uma marca nossa, fazer a roda de conversa. Era isso, uma coisa muito despretensiosa também, mas necessária. Aí a Miriam topou, convidou uma amiga aqui, outra ali e inicialmente montamos o grupo “Griôs da Dança”. Por que griôs da dança? Porque são mulheres, foi pensado para mulheres, qualquer mulher e todas as mulheres que desejassem dançar um pouco e falar de si, falar de suas histórias e das histórias de outras mulheres. Então já foi uma pegada um pouco mais feminista preta. E griôs porque nós, além de dançar, somos contadoras de nossas histórias. 

E aí uma foi puxando a outra e começamos lá no Mucane, em 2014, e fizemos esse grupo que está presente ainda. É um grupo que tem a perspectiva mesmo de se reunir, de falar de histórias de mulheres brasileiras, mulheres de outros países, de contar histórias de pessoas simples como nós, da nossa comunidade, como também de grandes artistas, grandes mulheres da política, da ciência, então as mulheres sempre estiveram muito presentes nas Griôs da Dança, não só na nossa roda de conversa, mas também nas músicas. É um grupo bastante forte, com uma perspectiva muito grande de que, quando a pandemia estiver acabado, a gente possa se encontrar novamente.

 

P: Na sua perspectiva, dançar é um ato político?

 

Dançar é um ato político. É revolucionário, é fazer do próprio corpo, de si mesma, algo que é para além do que o olhar do outro percebe, é se sentir livre, é se sentir em paz, é se sentir feliz, é se sentir vivo; para mim, dançar é um ato político, muito político, e eu acho muito bacana pensar que a dança não está restrita à juventude, então, como eu comecei essa história falando que eu tinha 13, 14 anos, eu tenho 55 e eu quero que isso se prolongue por, pelo menos, até meus 92 anos.

A dança é revolucionária até nessa perspectiva. Não tem uma geração apropriada para dançar, não tem um corpo específico para dançar, todas as pessoas, em qualquer momento da vida, podem dançar, ainda que se movendo em uma cadeira de rodas, ainda que se movendo com muletas, ainda com o corpo bastante obeso, ou muito magro, do jeito que você estiver, onde você estiver, a dança é possível, eu tive muita certeza disso porque, nessa trajetória toda, eu também sou professora de educação especial, então passei boa parte da vida dando aula para pessoas cegas, e já dei aula de dança também para pessoas com baixa mobilidade, e é tudo possível, é tudo muito interessante. E aí a dança é realmente um ato político, e um ato político libertador.



6 comentários:

  1. Ariane Meireles fez um belo registro da dança afro no ES.
    Valeu!
    Parabéns!

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  2. Linda! Adorei! Comentario fantastico.

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  3. Todo meu amor, respeito, admiração, orgulho...Ariane representa tanto que faltam palavras para descrever à altura! Muita gratidão por sua tão importante existência! Ser Griô e tê-la como Mestra é um imenso privilégio! Você merece tudo de melhor! Sua história é necessária ✊🏽

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  4. Que história linda da dança no ES. Ariane Meireles é uma diva. Seu nome já está eternizado nessa história. Uma honra poder fazer parte das Griôs. Só aprendizado, troca, afetos e muita dança...Gratidão Mestra Griô, Ariane Meireles

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  5. O que dizer dessa mulher Maravilinda? Essa entrevista nos mostra a luta pela perpetuação da nossa cultura. A contribuição de Ariane Meireles para Dança Afro no Espírito Santo e para o fortalecimento da cultura africana e afro brasileira é enorme. Aprendo muito com essa mulher poderosa e sou grata por participar do grupo das Griôs.

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